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A perigosa aproximação de Bolsonaro com o autoritarismo parece começar a deixar o campo da retórica e tomar forma em Brasília. O presidente irá aumentar ainda mais a já ampla participação de militares em postos-chave no segundo e terceiro escalões do Governo Federal, em informação apurada pelo jornal Folha de S. Paulo. O núcleo duro do Palácio do Planalto desenha uma gestão ancorada nas Forças Armadas. Atualmente já são 1349 militares da ativa em funções no Executivo, isso sem contar os 881 que estão cedidos ao Ministério da Defesa
Desta forma, ao que parece o ex-capitão do Exército desistiu de negociar sua permanência na presidência com a esfera política, já que sua intenção era oferecer esses cargos aos partidos do chamado Centrão na Câmara, na boa e velha tática do ‘toma lá, dá cá’ que ele sempre dizia abominar.
Outro sinal do flerte cada vez maior do ex-capitão com o regime ditatorial é sua intenção de trocar o comandante do Exército, general Edson Pujol, figura que já se mostrou contrária aos discursos irresponsáveis de Bolsonaro. Especula-se que ele deseja um de seus principais aliados no comando da tropa, o general Luiz Eduardo Ramos, atualmente titular da Secretaria de Governo.
Apesar de negar a possibilidade, alegando que “tem uns seis generais mais longevos na fila”, Ramos não convence já que não seria a primeira vez que um presidente nomearia um oficial que não está ponteando a fila de sucessão das Forças Armadas. Dilma indicou Eduardo Villas Bôas, em 2015, para comandar o Exército, aquele que se tornaria um dos responsáveis por levar Bolsonaro ao poder, conforme ele mesmo admitiu.
Ontem o presidente nomeou, em cerimônia rápida, a portas fechadas, o novo diretor geral da Polícia Federal, o delegado Rolando Souza, braço-direito de Alexandre Ramagem, impedido de assumir o posto pelo STF, na Agencia Brasileira de Inteligência, a Abin, em mais uma afronta de Bolsonaro. E Souza já começou a fazer as mudanças encomendadas a ele, com a troca da chefia da PF no Rio de Janeiro, ao nomear o atual superintendente Carlos Henrique Oliveira para estar ao seu lado em Brasília. Oliveira havia sido alçado ao cargo no Rio, onde se concentram as investigações dos filhos de Bolsonaro, pelo exonerado Maurício Valeixo.
À esteira de todos esses preocupantes acontecimentos, tivemos a triste notícia da morte do grande cantor e compositor Aldir Blanc, figura fundamental na resistência poética à ditadura militar, autor de inúmeras obras veneradas na música brasileira, inclusive daquele que foi considerado o hino da anistia, em 1979: “o bêbado e a equilibrista”, eternizada na voz de Elis Regina.
Em tempos que se avizinham de luta aberta pela democracia, onde a esperança equilibrista dança na corda bamba, a passagem de Aldir Blanc é simbólica. Em sua homenagem, passarei à leitura de um pequeno texto que seu parceiro João Bosco publicou ontem. Diz o cantor:
“Peço desculpas aos que têm me procurado hoje. Não tenho condições de falar. Aldir foi mais do que um amigo pra mim. Ele se confunde com a minha própria vida. A cada show, cada canção, em cada cidade, era ele que falava em mim. Mesmo quando estivemos afastados, ele esteve comigo. E quando nos reaproximamos foi como se tivéssemos apenas nos despedido na madrugada anterior. Desde então, voltamos a nos falar ininterruptamente. Ele com aquele humor divino. Sempre apaixonado pelos netos. Ele médico, eu hipocondríaco. Fomos amigos novos e antigos.
Mas sobretudo eternos. Não existe João sem Aldir. Felizmente nossas canções estão aí para nos sobreviver. E como sempre ele falará em mim, estará vivo em mim, a cada vez que eu cantá-las. Hoje é um dos dias mais difíceis da minha vida. Meu coração está com Mari, companheira de Aldir, com seus filhos e netos. Perco o maior amigo, mas ganho, nesse mar de tristeza, uma razão pra viver: quero cantar nossas canções até onde eu tiver forças. Uma pessoa só morre quando morre a testemunha. E eu estou aqui pra fazer o espírito do Aldir viver. Eu e todos os brasileiros e brasileiras tocados por seu gênio”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: