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Editorial – 05.06.2020

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Com a escalada autoritária da retórica bolsonarista, os debates no campo democrático, em especial na dita esquerda, se ampliam para a definição da melhor tática de combate aos arroubos do presidente e de sua claque. Talvez a discussão mais recente e que exigiu maior atenção tenha se dado em torno de um texto publicado pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares, onde ele alerta para o erro daqueles que se organizam para ir às ruas no próximo domingo clamar contra a ditadura que o ex-capitão do Exército ameaça implantar no país.

 

O especialista em segurança pública lembra os sinais dados pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão, que publicou mais um de seus artigos intimidatórios na última quarta-feira, no jornal O Estado de S. Paulo, bem como as declarações do procurador-geral da República Augusto Aras, para a TV Globo, onde ele, demonstrando mais uma vez sua deferência ao chefe do Executivo, inventou uma interpretação de ocasião para o texto constitucional onde as Forças Armadas estariam autorizadas a atuar caso um dos poderes da República investisse contra qualquer outro, em alusão às atitudes do Supremo de contestação às práticas criminosas de Jair Bolsonaro, tese que rapidamente foi desmontada pela Ordem dos Advogados do Brasil.

 

Pois bem, Luiz Eduardo acredita que o ex-capitão do Exército estaria preparando uma armadilha para os manifestantes pró-democracia, que infiltraria aliados no ato para promoverem quebra-quebra, em uma nova tentativa de deslegitimar e criminalizar os grupos que têm responsabilidade com a liberdade e as garantias que a Carta Magna estabelece. Ele previu que, caso de fato ocorram tais ações violentas patrocinadas por bolsonaristas, o mandatário solicitaria a decretação de estado de sítio ao Congresso, em “defesa da lei e da ordem”.

 

As palavras do antropólogo produziram um intenso debate nas redes, onde até mesmo parlamentares, como o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que esteve presente nas manifestações do último final de semana, se posicionaram a respeito de sua postura cautelosa. De reações mais polidas a críticas severas contra uma suposta desmobilização da luta democrática.

 

Nós entendemos que o momento requer muito cuidado e ações estratégicas no embate a um inimigo que veste farda e ostenta a faixa presidencial, que conta com o monopólio do uso da força e o concede àqueles que compartilham dos mesmos ideais repressores e fascistizantes.

 

Mas, talvez, neste momento, a paralisia se coloque como um atestado de passividade e concordância com o processo ditatorial que está em curso. Quaisquer atitudes que tomemos serão certamente utilizadas pelo bolsonarismo contra nós, há de se observar isso. O temor daqueles que se opõem à presença da população nas ruas, não apenas por conta dos riscos políticos que isso pode provocar, mas pela possibilidade clara de disseminação ainda maior do coronavírus, é legítimo e merece todo o nosso respeito.

 

Contudo, a reflexão, a qual convido todos a fazer, diz respeito àquilo que a omissão de se agir em um momento tão grave da história do nosso país pode provocar. Os agitadores podem ser neutralizados pela expressão das massas organizadas, como chamou atenção o jornalista Milton Temer. A realidade, mais uma vez, se impõe e precisamos estar firmes e alertas em defesa do nosso maior bem que é a democracia. A História é quem vai nos condenar ou nos absolver.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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