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Editorial – 06.05.2019

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Na última sexta-feira, fizemos mais uma mesa de debates aqui no Faixa Livre abordando a questão do petróleo. Sim, porque essa é a questão central. Os Estados Unidos vem comprando briga com todo mundo e principalmente com a China. Ontem Trump voltou a ameaçar os chineses com a tentativa de divulgar que há uma intenção em elevar tarifas de importação de produtos chineses no montante de US$ 200 bilhões em torno das importações que os Estados Unidos hoje fazem em relação à China.

 

Ao mesmo tempo, no Oriente Médio, a coisa se agrava com uma nova rodada de conflitos entre Israel e os palestinos na Faixa de Gaza, que é controlada pelo Hamas, um grupo de apoio essencial hoje para a manutenção da Faixa de Gaza, bem como para um conjunto de outras resistências que os árabes organizam procurando deter a fúria de Israel, principalmente contra o Irã, que é uma ameaça permanente de maiores instabilidades no quadro internacional.

 

Tudo isso eu me recordo porque essas questões colocam o governo americano em uma situação de absoluta dependência do petróleo que temos aqui nas nossas Américas, principalmente no Brasil e na Venezuela, e assim nós podemos entender um pouco do que vem acontecendo.

 

É evidente que um agravamento do quadro internacional poderá levar novamente a uma elevação muito forte do preço do barril do petróleo, principalmente frente à combinação de crises que podem resultar em conflitos militares e crise econômica também. Por isso é necessário que a gente observe muito bem o que estamos sofrendo aqui dentro do Brasil por força das pressões norte-americanos e afetando especialmente a nossa Petrobras.

 

Existe um conjunto de iniciativas da direção atual da Petrobras que segue, na verdade, uma trajetória inaugurada lá com Aldemir Bendini ainda na gestão de Dilma Rousseff, mas foi aprofundada por Pedro Parente na gestão de Temer e agora tem sua continuidade no governo Bolsonaro. E nesse sentido, vou fazer a leitura de uma carta importante que circula nas redes sociais que diz respeito a essa situação da nossa maior empresa. Diz a carta de um engenheiro da Petrobras que trabalha no refino e, pelas razões políticas em curso, prefere não se identificar:

 

“Por favor, não simplifiquem a questão como mera defesa do meu emprego. Vivemos uma era da guerra de informação e contrainformação sem precedentes. A mentira parece-me uma estratégia política ainda mais explorada ultimamente. Se escrevo é porque ainda acredito que só podemos mudar o mundo para melhor quando o povo for mais consciente e engajado. Compartilhe o texto e faça parte dessa luta.

 

O petróleo e seus derivados são recursos estratégicos, essenciais na geopolítica mundial, fator determinante em inúmeras guerras e fomentadora de atuações orquestradas para mudança de governos ao redor do mundo.

 

A Petrobras nunca esteve quebrada. Mesmo no auge da lava-jato, ano após ano, a empresa teve lucro operacional e elevado saldo em caixa [01].

O alegado “monopólio de fato” no refino não procede. Prova disso é que, com a mudança na política de preços iniciada no governo Temer, mas que ainda continua sendo praticada, de paridade com os preços internacionais, a Petrobras perdeu participação de mercado para importadores independentes e as refinarias brasileiras passaram a operar com capacidade reduzida.

 

A Petrobras atende a diretriz do governo que, em prejuízo do povo, favorece pequenos grupos de importadores e as refinarias dos Estados Unidos. Os americanos nunca exportaram tanto diesel para o Brasil como nos últimos dois anos. Em 2018 cerca de 84,3% do diesel importado veio dos EUA [02].

 

A atual política de preço mancha a imagem da Petrobras, criando um senso comum de que a venda de suas refinarias é algo bom para o país. Com a venda delas, não haverá redução no preço dos combustíveis e do gás de cozinha. Quem defende a privatização acredita numa gestão mais eficiente. Contudo, ainda que isso ocorra, os preços continuarão seguindo o mercado internacional e o ganho de eficiência se refletirá em maior lucro, o que beneficia acionistas, não os consumidores.

 

Ao vender as refinarias da Petrobras, nunca mais será possível utilizar a empresa, como Estatal que é, para promover políticas de incentivo ao desenvolvimento do país. Os preços nas refinarias continuarão seguindo a paridade internacional. Se a cotação do dólar continuar subindo, os preços seguirão pressionados para cima.

 

A viabilidade econômica das petroleiras depende da integração vertical. Elas precisam ir do poço de petróleo ao posto. Quando o preço do petróleo cai muito, é o refino que evita operar no vermelho. Esse foi o cenário observado em 2015, 2016 e primeiro semestre de 2017 [03]. Nesse período, apenas vender petróleo não era suficiente. Vender o refino vai na contramão da prática historicamente adotada pelas maiores companhias privadas e estatais internacionais e eleva significativamente o risco da Petrobras continuar sendo lucrativa. A venda do refino pode representar o primeiro passo efetivo para a completa privatização da Petrobras.

 

Nos últimos anos, temos observado crescer a influência do mercado financeiro nas decisões dos governos. Os interesses desses patrocinadores raramente ou quase nunca se confundem com os interesses da população. Algo tão grande como o petróleo deveria cumprir um papel de destaque na construção de um futuro melhor para o povo”.

 

Assim fica aqui registrado mais um alerta: estamos em meio a uma guerra internacional que tem, de um lado, uma potência que perde espaço, no caso os Estados Unidos, para uma potência emergente que é a China. Sabemos que estamos na área de influência direta dos Estados Unidos, mas não precisamos ter um governo inteiramente subordinado aos ditames da Casa Branca. Isso é uma vergonha para todos nós e é com relação a isso que precisamos fazer com que nossas consciências falem mais alto e a gente interrompa esse caminho absolutamente suicida para a Petrobras e, principalmente, para o nosso próprio país.

 

Ouça o comentário de Paulo Passarinho:

 

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