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Nós já citamos aqui no programa algumas vezes o lançamento recente de um livro do ex-juiz e quase candidato à Presidência Sergio Moro, onde ele faz algumas revelações a respeito da sua relação com o presidente Jair Bolsonaro na época em que era ministro da Justiça e Segurança Pública e também cita outras figuras do governo, como o ministro da Economia Paulo Guedes.
Pois bem, o jornalista Elio Gaspari publicou, no último domingo (05), em sua coluna no jornal O Globo uma análise dos recados que Moro envia em sua obra e também algumas informações que podem e devem ser aproveitadas pela esquerda no debate eleitoral que se anuncia para o ano que vem. O título do texto é “O mundo encantado de Sergio Moro”. O Elio Gaspari diz o seguinte:
“Sergio Moro está em campanha e tomou uma rara iniciativa: publicou um livro escrito por ele, explicando-se e apresentando-se. O epílogo diz tudo. Seu título é ‘Precisamos de você’ e a última frase é um pedido de ajuda: ‘A luta contra o sistema de corrupção nunca poderá prescindir de bons combatentes, entre eles você’.
Moro fala muito bem de si. Saem mal de seu livro o Supremo (quando o declara parcial), o Congresso (quando altera suas propostas) e Jair Bolsonaro (quando fritou-o). A Sergio Moro ele concede um mecanismo que condena, a ‘presunção de inocência à brasileira’: Ela ‘é apenas uma construção interpretativa que visa garantir a impunidade de crimes cometidos pela classe dirigente’. Todo mundo é culpado de tudo, menos Sergio Moro.
Ele justifica suas sentenças e defende com argumentos que parecem insuficientes o fato de ter patrocinado a exposição da interceptação telefônica de uma conversa de Lula com a então presidente Dilma Rousseff quando o prazo legal da escuta já tinha caducado. Não foi ele quem autorizou a publicidade. Vá lá, mas quem foi?
O juiz que simbolizou a Lava-Jato com seus méritos históricos, conclui que a operação ‘foi vítima de suas virtudes, e não de seus erros’. Moro trata do episódio que pode ter sido o maior erro do campeão da Lava-Jato: sua ida para o Ministério de Jair Bolsonaro.
Referindo-se à retórica de Bolsonaro durante a campanha de 2018, quando era um magistrado, ele diz:
‘Não imaginei, nem por um minuto, que aquelas declarações, muitas delas completamente absurdas, reverberassem em políticas públicas concretas. Havia uma distância entre discurso e gesto que me dava algum conforto’.
Tudo bem, mas como Bolsonaro não mudou, o juiz que aceitou, entre o primeiro e o segundo turno, o gesto do convite para o Ministério, acreditava que o capitão estava enganando a plateia. O tempo mostrou que o juiz enganou-se achando que enganava-se o eleitorado.
Relembrando o aparecimento do rolo das rachadinhas, na primeira semana de dezembro de 2018, Moro diz:
‘Àquela altura eu já havia deixado a magistratura e estava na equipe de transição do governo. Não havia como voltar atrás’. Haver, havia, ficou porque quis.
Moro menciona em seu livro mais filmes e séries de TV (oito) do que marcos da jurisprudência. Em nenhum deles o herói se deixou fritar.
Tendo entrado no governo de um presidente que dizia absurdos durante a campanha, perdeu a confiança nele quando começaram a trabalhar juntos: ‘Eu não poderia confiar nele’, ou ‘não havia como confiar mais no presidente’. Moro registra que Bolsonaro também mostrava não confiar no seu ministro da Justiça. Essa desconfiança seria maligna, enquanto a de Moro em Bolsonaro, benigna. Jogo jogado, afinal, o livro é dele. Lê-lo pode ser um pouco agreste, mas ajudará a acompanhá-lo na campanha do ano que vem. Ele não conta tudo, mas solta insinuações e avisa:
‘Quem sabe algum dia eu escreva um relato mais abrangente e detalhado, abordando fatos sobre os quais fica muito difícil me posicionar no momento’.
Tomara que isso aconteça logo. Falta contar com fatos porque Bolsonaro queria interferir na Polícia Federal”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: