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Tivemos nesta semana o carnaval mais politizado da história. Um slogan marcou os festejos e os desfiles de blocos, espontaneamente, de Norte e Sul do país, mandando Bolsonaro tomar naquele lugar. Não adiantou que os meios de comunicação tivessem tentado esconder essa manifestação popular. Hoje, pelo menos para certas coisas, as redes sociais substituem a mídia comercial. Neste caso, substituiu perfeitamente. Todo mundo tomou conhecimento do que ocorreu.
Em alguns blocos a polícia interveio, tentando impedir essas manifestações, alegando que elas tinham cunho político. Sim, tinham. E daí?
Não é a polícia que vai permitir ou proibir manifestações. A Constituição garante que elas podem ser realizadas. Não importa que sejam políticas ou que critiquem tal ou qual governante.
Aliás, algo a se registrar é o comportamento crescentemente violento e arbitrário de parte das polícias militares. É como se a vitória eleitoral de Bolsonaro e de alguns governadores alinhados com ele tivessem liberado ainda mais instintos agressivos e selvagens dos PMs.
No Rio, o Bloco da Lud, que reuniu mais de um milhão de foliões terça-feira de carnaval, no Centro do Rio, foi palco de uma inaudita violência. Sob pretexto de pôr fim a uma briga de meia dúzia de pessoas, a PM usou bombas de gás, balas de borracha e cassetetes contra todo o bloco, atingindo homens, mulheres, idosos e crianças. Foram hospitalizadas 29 pessoas e as fotos da violência são impressionantes. E houve, ainda, um ingrediente que está se tornando mais e mais comum: os policiais cometem atos selvagens e tentam proibir que eles sejam fotografados. Se alguém não obedece, é ameaçado de espancamento ou prisão, por “desacato à autoridade”.
Para culminar, o primeiro lugar no desfile das escolas de samba do Rio ficou com a Mangueira, num desfile que vai ficar na lembrança, e que cantou a participação popular na história do Brasil, em contraposição a uma história oficial que deixa pobres, negros, índios e trabalhadores de fora.
Mas, fiel à sua natureza, o governo Bolsonaro aproveitou o carnaval e a natural desatenção das pessoas para o que ocorre na política e tomou mais duas medidas na sua linha de ataques aos direitos do povo: criou dificuldades para que os trabalhadores contribuam financeiramente para os seus sindicatos e abriu as terras dos índios à mineração, independentemente da vontade deles.
Mas o carnaval deu, também, os primeiros sinais de outra coisa: a conjuntura pode estar mudando. A espontaneidade com que surgiam gritos contra Bolsonaro aponta para um certo despertar da cidadania depois da ressaca eleitoral.
Um bom termômetro para medir a consistência desta última afirmação são os atos políticos marcados para hoje, tendo como mote o Dia Internacional da Mulher e o combate à reforma da Previdência proposta por Bolsonaro, que praticamente tira o direito à aposentadoria da maioria das pessoas.
Se, de fato, a conjuntura já estiver começando a mudar e inclusive gente que – pelo antipetismo ou para marcar posição contra a corrupção ou a violência – votou em Bolsonaro estiver caindo em si, pela primeira vez na história do Brasil um governante não terá os sequer primeiros cem dias de lua de mel com o eleitorado. Antes mesmo disso enfrentará uma oposição maciça.
De qualquer forma, Bolsonaro que não se iluda. Sua política antipopular e entreguista terá a resposta da sociedade.
Neste carnaval não foram só eleitores que votaram em outro candidato que mandaram o presidente tomar naquele lugar. Aquela unanimidade mostra que havia também eleitores dele no protesto. É bom que ponha as barbas de molho.
Nós, do Faixa Livre, não temos razão para esconder que somos contrários ao governo Bolsonaro e a tudo o que ele representa: retirada dos direitos dos trabalhadores, ataques à democracia e entrega do patrimônio nacional. E, daqui, na nossa humilde trincheira, nos somaremos à resistência do povo.
Ouça o comentário de Cid Benjamin: