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A combinação da expansão da epidemia do coronavírus, bem como os problemas relativos ao mercado de petróleo nessa disputa entre a Rússia e a Arábia Saudita, levaram ontem os mercados financeiros do mundo inteiro a uma situação inusitada. Praticamente estabeleceu-se o pânico, as ordens de venda eram infinitamente superiores a qualquer intenção de compra e, com isso, os preços, principalmente nas bolsas de valores, despencaram. Bem, o que temos a ver com isso? Em primeiro lugar, as perdas na Bolsa de São Paulo foram bastante significativas, acompanhando as perdas das bolsas ao redor do mundo. Nesse sentido não há nenhuma novidade.
A novidade foi a posição absolutamente oportunista e irresponsável do senhor Paulo Guedes, esse especulador financeiro que ocupa hoje o posto de ministro da Economia do Governo Federal. Ele afirmou simplesmente estar muito tranquilo com toda essa situação e aproveitou o quadro que estamos vivendo para insistir nas chamadas reformas económicas. O interessante é que a essência dessas reformas económicas, além de ampliar a nossa subordinação à dinâmica internacional do capitalismo que encontra-se em crise, internamente significa arrochar ainda mais estados, municípios e o próprio Governo Federal através da contenção do gasto público e, principalmente, de medidas que visam reduzir o custo do trabalho no Brasil.
Significa simplesmente reduzir ainda mais a renda dos trabalhadores do nosso país. São duas direções que estas reformas encarnam absolutamente contraproducentes em um momento como esse. Aliás, pretender arrochar ainda mais a renda dos trabalhadores do Brasil é algo simplesmente criminoso, afinal de contas uma chave para que a gente recupere a possibilidade de crescimento e de geração de emprego seria justamente incrementar a demanda pelo lado mais frágil da nossa sociedade que são os trabalhadores.
Nesse sentido, é lamentável a posição de Paulo Guedes, mas quem banca esse cidadão é justamente o senhor Bolsonaro, que lá nos Estados Unidos, depois de um encontro com Donald Trump, esteve ontem em Miami com empresários brasileiros daquela cidade norte-americana e, lá, ele simplesmente declarou que foi eleito no 1º turno das eleições 2018. Claramente, com isso, ele quer jogar ainda mais lenha na fogueira dessa manifestação marcada pelos setores bolsonarista para o próximo domingo. Essa manifestação tem como objetivo principal criar constrangimentos especialmente ao Congresso e ao próprio Supremo Tribunal Federal.
Nesse sentido, essa questão que ele levantou de forma também absolutamente irresponsável nos Estados Unidos, afirmando que sua eleição já teria se dado no 1º turno das eleições presidenciais do ano de 2018, tem como objetivo criar maiores constrangimentos às ditas instituições, que aliás funcionam muito mal aqui no nosso país. O próprio fato de Bolsonaro ser hoje o nosso presidente da República não teria sido possível, tenho insistido muito nessa questão, sem o concurso do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e, pasmem, sem o concurso do alto comando do Exército
O alto comando do Exército teve um papel fundamental na eleição de Bolsonaro, conforme as palavras do atual presidente quando, inclusive, ao dar posse ao atual ministro da Defesa, claramente atribuiu a sua vitória eleitoral ao comandante do Exército de Dilma e de Temer, o senhor Eduardo Villas Bôas, um general que hoje ocupa um alto cargo no Gabinete de Segurança Institucional, trabalhando dentro do Palácio do Planalto.
Tudo isso evidentemente é um verdadeiro escândalo, mas a oposição, por sua vez, me parece muito débil na crítica que faz ao processo eleitoral que levou Bolsonaro ao governo e ao próprio governo Bolsonaro, recheado desses generais do alto comando do Exército e que hoje assistem de forma absolutamente passiva a essa relação de Bolsonaro com estratos inferiores das Forças Armadas, principalmente a sua relação com a baixa oficialidade, com cabos e sargentos, e com a PM de diversos estados.
Existe, inclusive, uma proposição nesse momento no sentido de unificar essas PM’s em um comando federal, o que evidentemente esvaziaria qualquer tipo de interferência dos governadores estaduais em relação a essa corporação que cada vez mais dá sinais de rebeldia e de uma conduta completamente fora daquilo que a gente pode imaginar como natural para que tenhamos um mínimo de segurança na chamada área da segurança pública.
Portanto, a situação política que estamos vivendo, combinada com a situação económica, é de extrema gravidade e é nesse sentido que chamamos atenção para a posição, não somente dos partidos de esquerda, mas das nossas chamadas instituições que assistem de forma passiva a esse tipo de pregação antidemocrática contra o Congresso, o Supremo, contra as próprias eleições e a sua lisura aqui no nosso país, em um momento em que é necessário que o Estado brasileiro tenha uma nova posição frente à crise econômica internacional que nos afeta de sobremaneira e, evidentemente, não será através do aprofundamento do arrocho em relação ao Estado, ao gasto público e aos trabalhadores que nós teremos algum tipo de alternativa para saída da crise.
Porém, nesse momento é a crise política que talvez deva merecer a maior atenção. Existe claramente uma movimentação de Bolsonaro apoiado pela alta oficialidade das Forças Armadas, tudo indica isso, como também pelos baixos estratos da hierarquia das Forças Armadas e também dessa Polícia Militar. É uma situação claramente muito delicada e que se soma, inclusive, a situações que há muito tempo nós não observamos. Ontem mesmo a diretoria do Clube Militar distribuía uma informação aos seus associados convocando para essa manifestação do próximo domingo.
Evidentemente existe toda uma ação articulada neste momento pelo bolsonarismo no sentido de, aproveitando-se de todo pânico gerado pela crise económica, avançar nas suas posições absolutamente autoritárias, de grande risco à democracia e que subordinam o nosso país a uma dinâmica ditada pelos Estados Unidos aqui no nosso subcontinente das Américas e onde a situação internacional cada vez mais coloca obstáculos violentos para qualquer tipo de ilusão, através principalmente de investimentos externos virmos a melhorar nossa situação econômica.
Isto é uma ilusão, uma irresponsabilidade e, nesse sentido, é muito delicada a situação que estamos passando. A se manter esse tipo de padrão de conduta do senhor Bolsonaro, bem como da sua equipe de governo, o pior nos espera, tanto sob o ponto de vista económico, como também sobre o ponto de vista político.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: