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Quando o vírus ainda desconhecido, que vinha devastando a Europa e a Ásia, provocando milhares de mortes na Espanha, na Itália e na China, desembarcou no Brasil no final de fevereiro e fez a primeira vítima fatal no dia 16 de março, um homem de 62 anos, o presidente da República disse que estava havendo um superdimensionamento da doença, que ele classificava como “histeria”.
Os dias foram passando, as mortes pela pandemia, a maior desde a gripe espanhola, foram se multiplicando no Brasil na mesma velocidade em que o negacionista presidente da República foi colecionando declarações que lhe valeram a alcunha de genocida e o alçaram ao posto de ameaça internacional.
Defendeu isolamento vertical, defendeu a saúde das finanças do país, ainda que isso custasse mais vidas, entrou em conflito com governadores e prefeitos que defendiam a vida, defendeu um remédio que especialistas do mundo inteiro rejeitavam. Todos discursos indefensáveis.
Chamou de ‘gripezinha’, depois desdenhou das mortes dizendo que não é coveiro, ironizou afirmando, em referência ao seu sobrenome, que era Messias, mas não fazia milagres, chegou a citar que a morte é o destino de todos nós e que tínhamos de enfrentar a doença, como se o problema fosse falta de coragem. Acreditem, ainda me refiro ao presidente da República
Essa mesma figura demitiu dois ministros da Saúde no intervalo de um mês porque ambos não aceitavam sua obsessão pelo tal remédio milagroso. Nem eles, nem a ema do Palácio da Alvorada. O país já está a praticamente três meses sem um titular na Pasta em meio à pandemia. Segue no cargo um general carimbador das sandices do tal presidente da República.
Morreram idosos, adultos, jovens, crianças, profissionais de saúde, gestantes, indígenas. Já foram 100 mil vidas interrompidas. E contando. Para o presidente da República, são só 100 mil repetições, 100 mil coisas iguais. Como se fossem 100 mil 100 mil balas de fuzil. Bom, acho que se fossem 100 mil balas de fuzil perdidas, haveria indignação e ações contundentes por parte do presidente da República.
No dia em que o Brasil chorava 100 mil histórias que deixaram de existir, o presidente da República comemorava um dos menores índices de óbitos por milhão de habitantes provocados pelo novo coronavírus entre as grandes nações do mundo. Foi a mensagem postada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência no último sábado.
No Brasil de Bolsonaro, a morte é política pública. Se morre de Covid, de fome, de desgosto. E quem não morre, vai perdendo a vida aos poucos. E o 08/08 trágico nos levou também um dos maiores ícones da luta contra a ditadura civil-militar, defensor da dignidade humana e da igualdade acima de qualquer coisa, o bispo emérito de São Félix do Araguaia, em Mato Grosso, Pedro Casaldáliga. Em tempos de autoritarismo, a morte de Casaldáliga simboliza a esperança que se vai em meio ao caos político e social brasileiro. Triste 08/08. Pobre Brasil.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: