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A discussão nossa aqui no Faixa Livre, desde 1994, na contestação à ordem burguês, pelo protagonismo da classe trabalhadora sempre girou em torno do modelo econômico adotado no nosso país. O liberalismo, que ganhava fôlego alçado pela vitória eleitoral de Fernando Henrique Cardoso, acabou dominando a institucionalidade nacional e se avolumando a um ponto onde o mínimo sentido de cidadania passou a estar ameaçado.
O jornalista Milton Temer publicou ontem (09), nas suas redes sociais, uma análise a respeito das contradições do capitalismo e as alternativas para a superação desta quadra de retrocessos no Brasil. O Milton diz o seguinte:
“Não há solução socialmente justa num regime capitalista. Não há como compatibilizar combate à inflação com juros baixos, a não ser que se tenha controle centralizado do câmbio, e não se esteja enjaulado em mais uma “meta de inflação” e um rigoroso “superávit fiscal”. Na financeirização globalizada de hoje, não há Banco Central que resolva isso sem haver uma ruptura estrutural radical que coloque os bancos estatais sob controle total do governo que não ceda à conciliação de classes. Sem falar em desconstrução e superação desse regime fundado na geração do “bom ambiente de negócios”, cuja legislação se fundamenta em liquidar direitos sociais como forma de manter intocada, ou até ampliada, a margem de lucro proveniente da cada vez mais agravada exploração da mais valia do mundo do trabalho. Tudo, evidentemente, mascarado sob a égide de “maior oportunidade de empregos”.
Tal cenário só deixa de ser utopia num governo capaz de chegar ao poder com a afirmação transparente de que dificuldades iniciais virão, com um previsível desabastecimento, tendo em vista a dependência de importações a que hoje estamos condenados. Dependência por conta da desindustrialização acelerada em que nos vimos mergulhados no neoliberalismo privatista, antissocial e pró-grande capital, desde o governo Collor, e até hoje hegemônico.
No excelente “Brasil, Uma Biografia”, as historiadoras Lilia Schwarz e Heloisa Starling nos lembram que, nos anos 50, quando o governo Juscelino apostou na indústria automobilística, o saudoso DKW Vemag chegou a ter 50% de seus acessórios produzidos no Brasil. A partir do período FHC, com a simbólica liquidação da MetalLeve, de José Mindlin, chegamos à total extinção da indústria de autopeças, carro chefe de nosso parque. Nas montadoras japonesas instaladas mais recentemente no Vale do Paraíba, com absurda isenção tributária, todos os acessórios são importados.
Nessa lógica, se entende porque o Banco Central tem consciência de que aumento de juros vai causar recessão, desemprego e desalento social, como informa a coluna de Miriam Leitão. Mas, e daí? A “autonomia” que lhe concederam não foi com objetivo do que o de manter o grande capital a salvo das tempestades perfeitas a serem previstas com tais medidas de austeridade fiscal: Que os desempregados, informais e desalentados paguem o preço, mesmo sem esperança de ver um futuro próximo de recuperação.
Tal perspectiva de solução socialmente justa só pode se dar no quadro de um governo democrático e popular, que não cometa a falácia de se pretender “governando para todos” pois a alguém estará traindo. Um governo garantido e apoiado pela transparência de uma proposta de reformas estruturais progressistas, com vistas à reconstrução interna de um parque industrial condizente com o atual desenvolvimento tecnológico promovido pela Revolução Digital. Um governo que garanta a retomada da regulamentação estatal sobre o desenvolvimento econômico voltado para as prioridades estabelecidas em políticas públicas destinadas ao combate à desigualdade social, caminho seguro de um verdadeiro regime democrático.
E por último, mas como preliminar, sem medo de falar em Socialismo no objetivo estratégico de todo movimento tático”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: