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Bolsonaro reconheceu como presidente da Venezuela Juan Guaidó, um desconhecido político que se autoproclamou presidente da Venezuela.
Como galhofa, então, o ator José de Abreu mandou confeccionar uma faixa presidencial e também se autoproclamou presidente do Brasil.
Idiota que é, Bolsonaro ameaçou processá-lo.
Era tudo o que Zé de Abreu queria.
E retrucou dizendo que iria ao Supremo Tribunal Federal pedir um habeas corpus para se proteger.
As coisas viraram um verdadeiro teatro do absurdo.
Na sexta-feira passada, dia 8 de março, o ator, que estava no exterior, desembarcou no aeroporto e havia um mundo de gente a esperá-lo. Foi carregado em triunfo, exibindo nas mãos um exemplar da Constituição.
Em seguida, Zé de Abreu foi diretamente para o Amarelinho, bar na Cinelândia onde se concentravam centenas de pessoas tomando seu chope depois da manifestação das mulheres.
Foi, de novo, saudado como presidente.
Ignora-se qual será o novo lance de Bolsonaro. Será que o presidente eleito vai mandar prender o presidente fake?
A propósito, está tendo grande sucesso nas redes sociais um texto de Rita de Almeida, profissional da área da saúde há mais de 30 anos. É um pouco longo e vou ler apenas uma parte dele.
“O que posso dizer a partir do que estudei e pratiquei todos esses anos é que, se não é possível desmontar um delírio, é possível desconstruí-lo pouco a pouco, parte por parte. Fazer pequenos furos, abalar algumas verdades, duvidar, perguntar, são algumas das estratégias que utilizamos para ir minando a certeza do sujeito delirante, fazendo-o enxergar outras possibilidades. E é muito importante que ele encontre outras possibilidades, caso contrário, voltará para sua certeza delirante, que ao menos lhe assegura um lugar.
Comecei a escrever este texto, com a intenção de defender a estratégia do ator José de Abreu, ao criar seu personagem presidente. Obviamente que ele não partiu de nada disso que eu falei para se autoproclamar presidente, mas acredito que tenha pensado algo do tipo: ‘diante de tanto absurdo, o remédio só pode ser mais absurdo’, e suponho que ele tenha razão. Não há argumento racional que possa arredar o Bolsoplanismo do seu lugar. O debate, o noticiário, a justiça ou a ciência (números, estudos e estatísticas), não fazem o menor efeito. Portanto, é necessário provocar outros afetos nessas pessoas, afetos que possam ir desconstruindo suas certezas. Obviamente que não estou me referindo ao clã Bolsonaro e sua trupe maluca, e haverá também um núcleo duro que irá defender o Bolsoplanismo até a morte, mas é possível reduzir bastante o contingente de militantes deliroides, até que fiquem relativamente inofensivos.
Voltando ao teatro do absurdo estrelado por José de Abreu – e é perfeito que isso esteja sendo feito por um ator – acredito que ele esteja colocando em prática uma coisa que fazemos nos nossos serviços de saúde mental e que funciona muito. Como usamos muitas práticas coletivas (grupos, oficinas e outras) os pacientes começam a ter de lidar com os delírios uns dos outros e, desse modo, começam a enxergar o seu próprio delírio. Ao duvidarem do delírio do outro, passam a duvidar do seu também. Ao rirem do delírio do outro, começam a rir do seu também. Ao se envergonharem do delírio do outro, começam a se envergonhar do seu também. E todos esses afetos, se não derrubam completamente os delírios, os deixam menos rígidos, emburrecedores e limitadores.
Tenho considerado que a performance de José de Abreu, já abraçada por vários outros políticos aliados, pode funcionar como uma grande oficina terapêutica a céu aberto. E ela tem ficado ainda melhor por contar com a participação do próprio Bolsonaro, que se dispõe a sair de sua posição de Presidente diplomado, para “bater boca” com um presidente fake. Apenas esse fato já nos dá a medida do tamanho do surreal que nos (des)governa, e do quanto a oficina do presidente fake está funcionando. Sugiro que ela não pare, e se amplie.
Por ora, o que podemos fazer para desbancar o Bolsonarismo e seu mito deliroide é isso mesmo: miná-lo. Para tal, precisaremos despertar o maior número de pessoas possível. Acho uma excelente estratégia fazer isso por meio do humor e do teatro do absurdo. O Brasil precisa enxergar sua própria loucura.
Contra um fake Presidente, nada melhor que um fake concorrente
José de Abreu para presidente do Brasil.
E já me ofereço para o Ministério do Alienista”.
Ouça o comentário de Cid Benjamin: