O governo Trump frustrou totalmente o governo Bolsonaro. Ontem, em carta dirigida à direção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE, uma espécie de clube dos países mais ricos e comandado, evidentemente, pelos interesses especialmente dos Estados Unidos e da Europa, acabou criando talvez a mais dura derrota ao governo Bolsonaro e a sua pretensa política externa. Nessa carta, o governo americano apenas reiterou o apoio de Washington às candidaturas da Argentina e da Romênia.

Sequer mencionou o Brasil e se opôs inclusive à ampliação do número de países membros dessa organização, frustrando mais uma vez o governo de Bolsonaro, que através de posições que são defendidas pelos europeus de ampliação do número de países da OCDE, apostava muito nessa perspectiva para reivindicar sua entrada. Ocorre que Bolsonaro escolheu justamente o governo Trump como seu principal padrinho e a frustração, nesse sentido, podemos dizer, é total e mostra os equívocos das concepções que regem a atual política externa do governo.

Nós já tivemos a oportunidade de conversar várias vezes que nas relações entre Estados nacionais não cabe nenhum tipo de consideração a respeito de pretensas amizades. O que vale é o interesse e os Estados Unidos vêm jogando muito pesado no sentido de afirmar os seus interesses aqui no Brasil, em particular, até porque nosso governo é completamente submisso. Nosso governo não se utiliza de nenhum tipo de mecanismo de pressão na busca dos seus objetivos, muito pelo contrário, é através de uma espécie de sabujice que ele pretende agradar os americanos e, com isso, ter determinadas conquistas, conquistas que, convenhamos, são muito questionáveis.

Essa própria entrada do Brasil na OCDE tem de ser relativizada. A OCDE, para admitir um país como seu membro, acaba tendo de desclassificar esse mesmo país como um país em desenvolvimento, o que cria para os países classificados desse modo uma série de vantagens, por exemplo, no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Todas são organizações multilaterais e as concessões, autorizações, os acordos que são estabelecidos para a entrada nessas organizações devem ser muito bem avaliados, afinal de contas somos um país subdesenvolvido, que precisa adquirir maior consistência principalmente na área industrial e ter uma política própria que seja definida não pelas pressões internacionais, mas pelas nossas necessidades, por aquilo que nosso povo precisa.

Para isso, precisamos ter um governo com sensibilidade para atender aos nossos objetivos e não aos objetivos de países estrangeiros. Bolsonaro parece não compreender esse tipo de questão e aposta tudo na política de concessões aos Estados Unidos. Veja bem o que vem acontecendo com nosso petróleo, inclusive que hoje envolve essa riqueza do chamado pré-sal. Ontem realizamos mais um leilão, não na área do pré-sal, porém em uma área muito próxima, limítrofe ao pré-sal, e o governo comemora o fato de ter arrecadado R$ 8,9 bilhões com o leilão sob regime de concessão dessas áreas na bacia de Campos e Santos.

Ora, R$ 8,9 bilhões é menos que o pagamento de nove dias de juros da nossa dívida pública interna. Isso mostra muito bem como, em matéria de cifras, de ditas economias, precisamos refazer todos os nossos conceitos. Não é possível entregar uma riqueza como essa do petróleo descoberto pela Petrobras em torno de um retorno de menos de R$ 9 bilhões. É um verdadeiro assassinato em termos da reputação do trabalho e do esforço de gerações passadas que tiveram essa vitória tecnológica que representou para o Brasil a descoberta dos campos do pré-sal, bem como as descobertas das bacias de Campos e Santos ainda nos anos 1970.

Não há nenhum sentido de se entregar uma riqueza dessa natureza para que o nosso petróleo cru seja simplesmente exportado para países que irão beneficiá-lo, irão refiná-lo e, principalmente, irão obter muitos lucros inclusive com suas estruturas industriais respectivas, deixando o Brasil à míngua, como mero exportador de um produto energético fundamental, mas que, sem o aproveitamento dentro do Brasil, desperdiçamos não somente energia, tecnologia, mas principalmente o trabalho de brasileiros que se envolveram nessa descoberta essencial para o futuro do nosso país.

Por isso, a redefinição de todas aquelas questões relativas à política externa e à chamada política de desenvolvimento para o Brasil deverão estar objeto a partir de agora, cada vez mais, da crítica de milhões de brasileiros que estão se prejudicando com a entrega das nossas riquezas e com a renúncia. Há uma questão elementar para qualquer Estado nacional, ainda mais nessa altura do campeonato, me refiro essencialmente à soberania nacional.

Sem que a gente tenha a clareza da importância da soberania nacional na construção do nosso país, simplesmente seremos entregues a essas aventuras daqueles que pensam que simplesmente através da subordinação, da subalternidade à potência militar que é os Estados Unidos, encontraremos um caminho para o nosso desenvolvimento. Isto é um equívoco e, mais do que isso, é uma traição os interesses mais genuínos do nosso país.

Ouça o comentário de Paulo Passarinho: