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Editorial – 12.11.2019

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Não há como desvincular uma coisa de outra. Ontem o governo lançou um programa de emprego para os jovens, um programa baseado na desoneração de encargos onde os empregadores teriam, portanto, um estímulo para a contratação de jovens, mas tudo isso parte da premissa, vejam vocês, de que a economia dá claros sinais de recuperação. Pelo menos foi esse o pronunciamento que o secretário de Emprego fez procurando infundir otimismo em uma situação que todos nós sabemos ser muito grave, especialmente para os jovens.

 

Aliás, o programa é focalizado nessa faixa de idade de 18 a 29 anos justamente porque é nessa faixa que o problema do desemprego se manifesta com muita força, e essa foi uma das questões inclusive levantadas pelo ex-presidente Lula no seu pronunciamento, no último sábado, onde ele claramente fez uma intervenção procurando explorar todos os sintomas de crise muito aguda que o Brasil vive há muito tempo, e a questão do emprego evidentemente foi denunciada pelo Lula com toda razão.

 

Aliás, Lula claramente deu uma guinada no seu discurso à esquerda. A grande questão que se coloca é se há suficiente credibilidade para a gente acreditar que Lula possa reconstruir a sua trajetória política a partir de uma aliança que estabeleça um privilégio com os partidos de esquerda e, principalmente, contemple um programa que de fato ataque as bases do neoliberalismo no Brasil, afinal de contas durante 13 anos essas bases foram, na verdade, fortalecidas.

 

Tivemos a permanência da liberalização financeira, da crença de que através da atração do capital externo teríamos melhores condições tanto em termos de recursos, investimentos, como em termos de atração de novas tecnologias para o desenvolvimento do nosso país, continuamos sem rever as privatizações e, muito pelo contrário, aprofundamos essas privatizações na área de infraestrutura e com a continuidade das rodadas dos famosos leilões de petróleo, até mesmo dos campos do pré sal, tudo isso sob a batuta do governo do PT.

 

Por isso, nesse momento, é necessário muito cuidado quando Lula acena novamente para a esquerda, procura fazer um discurso muito combativo, mas, ao mesmo tempo, nós sabemos de toda sua vocação conciliatória. Afinal, qual será a estratégia de Lula? Até porque o seu partido, o PT, vem se colocando ano após ano completamente subordinado às decisões monocromáticas de Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse sentido, as suas responsabilidades são muito maiores, mas, acima de tudo, devemos cobrar coerência, afinal de contas Lula experimentou um governo de conciliação nacional, procurou tirar o melhor proveito da situação que a economia internacional nos fornecia, mas evidentemente, todos nós somos obrigados a reconhecer isso, o golpe contra Dilma Rousseff parte de aliados que foram escolhidos pelo PT nesses anos do seu governo.

 

Mais do que isso, no seu conteúdo, no seu programa, o governo deixou muito a desejar caso nós tenhamos como objetivo a recuperação plena da soberania nacional e o enfrentamento das questões mais candentes do nosso país em termos do subdesenvolvimento e da dependência econômica. Ao contrário, aprofundamos essa dependência e, acima de tudo, tivemos um saldo muito negativo que foi esse carimbo de corrupção que foi colado no PT e, porque não dizer, na esquerda como um todo. Ontem já lembrava essa questão.

 

Sem um enfrentamento muito claro desse tipo de discussão junto ao povo brasileiro, será muito difícil Lula desfazer todas as pressões que existem, um certo sentimento anti-PT e anti-esquerda que está espraiado na sociedade justamente por conta desses mal feitos em torno dessa questão da corrupção. Sem que essa questão seja enfrentada, me parece que qualquer que seja a estratégia de Lula, seja pela esquerda, pelo centro, que talvez seja o mais provável, ela estará fadada ao fracasso porque Bolsonaro evidentemente irá reagir, e ele o fez no dia de ontem quando, em entrevista, não somente acenou com a possibilidade de usar a Lei de Segurança Nacional para enquadrar o Lula em função das suas palavras, do seu pronunciamento.

 

Mais do que isso, Bolsonaro decide também sair do seu Partido, o PSL, se é que podemos chamar isso de partido, e criar um novo partido a partir, inclusive, de um aplicativo onde as 500.000 assinaturas que são exigidas pela legislação serão obtidas de forma muito mais rápida pelas redes sociais. Portanto, a luta política está aberta entre o bolsonarismo e esse Lula que nós não sabemos, como nunca soubemos, para onde efetivamente ele vai. Reconhecemos que os programas sociais que foram implementados nos dois governos de Lula e nos governos de Dilma Rousseff minoraram em muito a vida de sacrifícios do povo mais pobre, mas ficaram muito longe de apresentar soluções estruturais para a questão do desenvolvimento, do emprego e, principalmente, da distribuição de renda e riqueza do nosso país.

 

Essa é a grande questão que se coloca nesse momento. Haverá condições do PT, especialmente de Lula, construir de fato um programa que responda às nossas necessidades, inclusive de enfrentamento do neoliberalismo que, mais do que nunca, procura deitar raízes no nosso continente americano e latino? Por isso, mais do que nunca, é necessário estarmos com os olhos muito abertos. Não é possível embarcarmos em qualquer tipo de aventura, mas, ao mesmo tempo, devemos saber que a extremadireita através de Bolsonaro nunca esteve tão dona de si no nosso país. É necessário muita atenção e acuidade na estratégia que iremos adotar para, de fato, derrotar Bolsonaro, mas, mais do que isso, derrotar o neoliberalismo no nosso país.

 

Ouça o comentário de Paulo Passarinho:

 

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