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Editorial – 13.05.2019

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Ao final de 2014, a pressão sobre o governo Dilma Rousseff era muito forte, afinal de contas tínhamos perdido uma dinâmica do crescimento econômico que havia sido uma marca principalmente durante o segundo governo de Lula, no período de 2006 a 2010. Entretanto, as medidas que foram tomadas por Dilma Rousseff no início do seu mandato, em 2011, jogaram a economia brasileira numa espécie de impasse, e esse impasse acabou acumulando uma série de erros que culminaram com os impasses em 2014.

 

O que ninguém esperava é que logo após sua vitória, Dilma Rousseff entregasse a administração da economia diretamente ao setor financeiro, particularmente a um executivo do banco Bradesco. De lá pra cá, estamos experimentando dois anos seguidos, 2015 e 2016, de recessão e a partir de 2017 uma forte estagnação, mostrando que esse é um processo inédito. Não só foi inédito o tombo da economia em 2015 e 2016, como principalmente a retomada do processo econômico, de crescimento, nunca foi tão devagar e nunca tivemos tantas incertezas depois de dois anos de estagnação em relação ao que pode acontecer agora em 2019.

 

Um dos principais bancos do Brasil, por exemplo, o Bradesco, que é o segundo maior, revisou sua projeção de crescimento para 1,1% esse ano, corte de 0,8 ponto percentual em apenas um mês, de acordo com a sua última projeção. Em abril, os bancos Santander e Itaú também cortaram suas estimativas para 1,3%, e olha que a turma dos bancos conhece bem esse riscado, até porque são eles os principais avalistas dessa política que prima por uma espécie de apelo a um arrocho permanente nas contas do governo, muitas privatizações e a entrega das nossas riquezas, especialmente o petróleo, para companhias estrangeiras.

 

É evidente que esse tipo de arranjo não pode dar certo e é nesse sentido que devemos inclusive dimensionar as atuais dificuldades políticas do governo Bolsonaro. Sim, porque teremos na próxima quarta-feira certamente a abertura de um forte processo de mobilizações que vai culminar com a greve geral marcada pelas centrais sindicais para o dia 14 de junho, mas o grande momento dessa mobilização nesta semana vai se dar com o Dia Nacional de Luta e paralisações de todo o setor da educação aqui no Brasil.

 

Espera-se que tenhamos paralisações das universidades, de colégios de ensino médio, de instituições federais de ensino e, na verdade, de todos aqueles que na educação vêm sentindo os cortes anunciados pelo governo e, ao mesmo tempo, essa ameaça permanente de novas mudanças na Previdência Social pública, desta feita para, de alguma maneira, liquidar de vez essa ideia de brasileiros terem um mínimo de segurança na sua idade mais avançada através, principalmente, de um sistema de Previdência Social que é absolutamente viável desde que a Constituição seja respeitada.

 

O problema é que sucessivos governos depois de 1994 vêm passando por cima dos dispositivos constitucionais, que inclusive garantiriam plenitude para o financiamento da Previdência Social pública. Então estamos mais uma vez frente a uma rodada de ameaças e é isso que faz com que exista hoje uma avaliação muito negativa em relação ao governo Bolsonaro, que a rigor está no seu início, mas parece já amargar um desgaste que vem de muito tempo.

 

Tudo isso por conta da crise econômica, desses ataques ao mundo do trabalho e especialmente por posições absolutamente bizarras que vêm sendo defendidas por vários dos seus ministros, uma espécie de guerra ideológica, conforme a mídia dominante caracteriza, contra posições da esquerda brasileira e do mundo civilizado. Portanto, é nesse sentido que devemos entender as promessas de ontem do senhor Bolsonaro. É isso mesmo, Bolsonaro tirou da cartola duas propostas que, me parece, ele imagina poderão reverter esse quadro de desgaste.

 

Em primeiro lugar, afirmou, em entrevista à rádio Bandeirantes, que o Sergio Moro, atendendo a acordo feito com o atual ministro da Justiça em uma próxima vaga para o Supremo, será nomeado ministro. A outra promessa de Bolsonaro foi em relação à correção da tabela do imposto de renda de acordo com a inflação agora desse ano. Segundo Bolsonaro, ele teria já solicitado ao Paulo Guedes, ministro da Economia, que esse procedimento viesse a ser assumido.

 

São duas promessas, vamos dizer assim, que claramente procuram estabelecer uma pauta positiva para Bolsonaro nesse momento de desgaste. É evidente que essa promessa de Sergio Moro ocupar uma vaga no Supremo dependerá, na verdade, do próprio desempenho de Bolsonaro e principalmente da maneira como o mundo político vem observando a conduta de Sergio Moro à frente do Ministério da Justiça.

 

Sergio Moro, depois de toda sua passagem como juiz de primeira instância e tendo tido um papel fundamental na condenação de Lula e na sua própria situação de estar impossibilitado de se candidatar às eleições do ano passado, tem demonstrado um apetite político muito elevado e isso evidentemente desperta oposições, divergências dentro da política e onde o Sergio Moro cada vez é visto como uma pessoa que usa das suas prerrogativas, antes como juiz, agora como ministro, para acumular força em torno de suas próprias posições.

 

É evidente que isso gera reações e o Senado, que deverá apreciar uma eventual indicação de Moro ao Supremo, está muito diligente em torno dessas questões. Dentro do próprio Supremo há muitas divergências e críticas em relação às atitudes de Sergio Moro. Portanto, pode ser essa promessa, uma vez sendo antecipada, um sinal para a criação de novas dificuldade na trajetória muito ambiciosa do senhor Sergio Moro.

 

Evidentemente isso dependerá muito do próprio comportamento de Bolsonaro, do seu governo, e especialmente dessa expectativa que não se realiza da recuperação econômica. A outra promessa, que diz respeito à correção da tabela do imposto de renda, é algo mais do que necessário. A grande questão é como Paulo Guedes irá equacionar esse desejo do presidente. Em meio a essa estagnação econômica, um dos principais efeitos da situação é a queda na arrecadação e, nesse sentido, Paulo Guedes como um apologista da disciplina fiscal, do rigor no controle dos gastos, terá de rebolar para atender Bolsonaro e, portanto, esse tipo de promessa pode se frustrar e apontar para futuros novos desgastes do próprio Bolsonaro.

 

Ouça o comentário de Paulo Passarinho:

 

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