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Editorial – 17.03.2022

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O escárnio que virou o Brasil sob a gestão de Jair Bolsonaro teve ontem (16) um daqueles capítulos de fazer inveja ao mais talentoso dos roteiristas, com a notícia de que o presidente da República será condecorado com a medalha do mérito indigenista, a partir de iniciativa do ministro da Justiça Anderson Torres. Mal comparando, é como se Adolf Hitler recebesse uma honraria pelos seus feitos em prol do povo judeu.

 

O volume de ataques do governo do ex-capitão contra os povos originários fica até difícil de quantificar, tanto que entidades de defesa dessas populações, como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), já denunciaram o chefe do Executivo no Tribunal Penal Internacional de Haia por crimes contra a humanidade e genocídio. Aliás, a própria Apib anunciou que vai contestar na Justiça o ato que concede a honraria a Bolsonaro.

 

As atrocidades que o bolsonarismo patrocina contra os direitos dos indígenas são tamanhas que até mesmo quem sairia beneficiado das ações desse conluio Governo Federal e Congresso se constrange. Eu me refiro a esse posicionamento do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), divulgado na última terça-feira (15) contra o projeto de lei que prevê a regulamentação da mineração em terras indígenas.

 

A Câmara aprovou, na semana passada, a tramitação desse PL em regime de urgência. O Ibram reforçou que é favorável a uma consulta ampla aos povos indígenas para que o tema seja debatido e os interesses dessas populações sejam respeitados.

 

Eu confesso a vocês que a iniciativa do ministro em conceder a medalha do mérito indigenista ao Jair Bolsonaro, na minha opinião, não passa de uma dessas tentativas diversionistas típicas da turma do ex-capitão para desviar o foco das questões de fato relevantes, como esse aumento absurdo do preço dos derivados de petróleo ou essa viagem misteriosa do Carlos Bolsonaro e de outro integrante do gabinete do ódio à Rússia com a delegação presidencial, em fevereiro, sem qualquer tipo de explicação, sendo que o país é um dos paraísos desses aplicativos de trocas de mensagens utilizados para disseminação de notícias falsas sem qualquer tipo de controle, como o Telegram.

 

De toda forma, além de ficarmos atentos ao que realmente interessa no nosso país, teremos de deixar anotado mais essa para quando esse pessoal sair definitivamente do Palácio do Planalto: revogar essa medalha do mérito indigenista de Jair Bolsonaro, de preferência em uma cerimônia pública em território indígena devidamente demarcado.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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