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Editorial – 17.07.2019

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Afora a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, em suspender as investigações relativas ao senador Flávio Bolsonaro, em mais uma pizza que, ao que tudo indica, vai para o forno, esta com o exótico sabor laranja, e a iniciativa do Ministério da Saúde em suspender a fabricação de 19 remédios distribuídos gratuitamente pelo SUS, o que afeta tratamentos de câncer e diabete, temas que serão debatidos em entrevistas no programa de hoje, eu gostaria de usar nosso espaço editorial para abordar uma notícia pouco comentada na grande mídia: o pedido de demissão, no mínimo suspeito, do coordenador do grupo de trabalho da operação Lava-Jato na Procuradoria-Geral da República José Alfredo de Paula, a dois meses de sua saída do cargo com a sucessão de Raquel Dodge..

 

A respeito disso, o excelente jornalista Álvaro Nascimento, que recentemente esteve à frente dos microfones aqui no Faixa Livre, escreveu um artigo em suas redes sociais e faço questão de dividi-lo com os ouvintes do programa. O título do texto é “Por que demitiu-se José Alfredo de Paula?”:

 

Há dois dias demitiu-se da Coordenação do Grupo de Trabalho da Operação Lava-Jato na Procuradoria Geral da República (PGR) o procurador José Alfredo de Paula. Ele poderia ter ficado mais dois meses no cargo e deixado a função, sem alardes, na sucessão de Raquel Dodge, em setembro. Porque ele decidiu não esperar período tão curto de tempo e deixar cargo tão importante?

 

O silêncio em torno do assunto promove todo tipo de especulação, principalmente quando o pedido de demissão se dá no momento em que a Vaza-Jato expõe os podres da operação que prendeu quem liderava as pesquisas eleitorais em 2018; contribuiu de forma decisiva para levar Bolsonaro ao poder (utilizando financiamentos ilegais de empresas estrangeiras que promoveram fake news de toda ordem sob os olhares cúmplices da Justiça e favorecido por vazamentos da própria Lava-Jato em datas estratégicas para expor Fernando Haddad) e que agora mostra os interesses até financeiros dos que comandavam a operação.

 

Não bastasse isso (o que não é pouco, obviamente) tendo como mote e ideário principal “a luta contra a corrupção”, a operação é responsável pelo fechamento de milhares de postos de trabalho no País, inviabilização de grandes empresas (quando apenas seus executivos poderiam ser punidos pelo que fizeram, como ocorre em outros países que viveram processos semelhantes) e pelo crescimento exponencial de uma profunda divisão na sociedade brasileira, que atingiu o interior das famílias, amizades históricas e até vínculos profissionais. Neste aspecto, não se viveu período semelhante no País desde o golpe de 64, há 55 anos.

 

Uma das especulações referentes à demissão de Paula – e que abriga uma maior lógica ao se tentar entender a sua decisão – indica que ele há tempos demonstra insatisfação com a lentidão das investigações relativas a políticos e membros do Judiciário que integram a delação premiada de Léo Pinheiro (a mesma usada para condenar Lula) que estão emperradas há seis meses no gabinete da Procuradora Geral da República, Raquel Dodge. Isso depois de já ter sido assinada e aceita por ela mesma em dezembro de 2018. E que ali parou. No meio disso, já discute-se abertamente em Brasília a intenção de Dodge de ser reconduzida ao cargo por fora da lista tríplice (formada a partir de eleição de todos os procuradores) a ser submetida ao Presidente da República.

 

Juntando-se os legumes desta “sopa”, a demissão de Paula pode nos levar a três cenários, todos refletindo de forma dramática a tragédia em que estamos metidos:

 

  1. Ele realmente está insatisfeito com a demora de Raquel Dodge em tocar adiante as investigações de políticos e membros do alto escalão do Judiciário que fazem parte da delação premiada de Leo Pinheiro. E decidiu “chutar o balde” para, num só tempo, deixar claro sua contrariedade com o que está ocorrendo na PGR e/ou se livrar de responsabilização futura pelo que vier a acontecer no âmbito da Lava-Jato.

 

  1. O prosseguimento das investigações engavetadas por Dodge pode trazer “episódios-bomba” ainda maiores que os tornados públicos pela Vaza-Jato de Glenn Greenwald, como o fato do Poder Judiciário estar sendo chantageado para aceitar todas as ilegalidades que há tempos estão sendo cometidas no País, hipótese que vem sendo levantada há alguns meses por vários setores progressistas da sociedade. Afinal, é a mesma Lava-Jato (agora está provado) que comete todo tipo de ilegalidade para inviabilizar o retorno de quem considera inimigo ao poder, que tem em mãos, desde antes da eleição presidencial, quais os políticos e membros do Judiciário que estão expostos ao perigo de terem suas vidas destruídas por eventuais denúncias feitas pelo mesmo Leo Pinheiro que, ao denunciar Lula, levou-o à prisão.

 

  1. Raquel Dodge tem nas mãos – há seis meses – um instrumento que mesmo sendo cada dia mais questionável em sua legalidade, já serviu para prender um ex Presidente e que pode atingir políticos do altíssimo escalão e membros do próprio Judiciário, como por exemplo juízes do STF. Este poder pode estar cacifando a atual Procuradora Geral a alçar voos antes inimagináveis, como ser reconduzida ao cargo sem passar pelo crivo eleitoral dos demais colegas e por fora da lista tríplice a ser enviada ao Presidente da República. Imaginemos como reagiriam Bolsonaro, Onix, Maia, Toffoli, Fux e muitos outros diante de tal situação.

 

O mais trágico de tudo isso é a constatação de que uma, duas ou todas estas possibilidades só estão sendo vislumbradas e tendo possibilidade de florescer em um País onde as instituições, ferramentas de Estado e mesmo parte da sociedade foram contaminados por um vírus que de forma planejada e paulatina atacou todos os mecanismos democráticos arduamente construídos nos últimos anos. É da propagação (ou não) deste vírus que depende nosso futuro, o de nossos filhos e netos”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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