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Editorial – 20.02.2019

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Meus amigos, caminhamos para a barbárie? Esta é uma pergunta a ser feita. Semana passada mais um crime chocou a sociedade. Ou, pelo menos chocou parte da sociedade. Aquela que se preocupa com a escalada da barbárie que vivemos.

 

Temos um presidente que homenageia torturadores. Um ministro da Justiça que autoriza policiais a matar se movidos por medo, surpresa ou violenta emoção. E um governador que prega o extermínio sumário dos supostos bandidos.

 

Depois que um segurança matou, por estrangulamento, um rapaz negro, pobre e doente num supermercado, chamou atenção a nota da empresa em que ele trabalhava: o rapaz teria roubado alguma mercadoria. Nem uma palavra de condenação do crime, nem uma palavra de solidariedade à mão do jovem, que estava no estabelecimento fazendo compras.

 

Ontem a primeira página da maioria dos jornais do Rio estampou duas fotos de uma mesma mulher: na primeira, um rosto sorridente, bonito; na segunda, um rosto desfigurado e deformado, devido ao espancamento de moça por parte de um homem que alegou ter se descontrolado. E leio um post que fiz nas redes sociais. Seu título é: Estamos caminhando para a barbárie?

 

Estou impressionado com o aumento brutal de pessoas vivendo nas ruas no bairro em que moro, Botafogo, no Rio. Sem exagero, o número delas triplicou nos últimos dois ou três anos. São pessoas de todas as idades, sujas, famintas, meio entorpecidas pela sua situação, largadas nas calçadas. Ninguém vê isso? O que essa gente que governa o país, o estado e a cidade está esperando? Caminharemos para ter um novo rio de Guarda no futuro?

 

Estou impressionado também com o aumento significativo de agressões a mulheres nos últimos tempos. Algumas delas são verdadeiras tentativas de homicídio. Será consequência do clima de ódio criado no processo eleitoral e do machismo exacerbado exibido por certos governantes?

 

E estou impressionado com o que ocorre na favela de Manguinhos, onde pessoas estão sendo alvejadas por tiros de fuzil isolados, aparentemente partidos de “snipers” (franco atiradores). Já houve um morto e um ferido com gravidade. A suspeita é que os disparos venham de uma torre no prédio da Secretaria de Segurança intitulado Cidade da Polícia, o único local de onde poderiam vir tiros de cima para baixo naquela área. Será que a ideia maluca do governador está fazendo com que policiais se sintam à vontade para brincar de tiro ao alvo em favelados?

Enfim, aonde vamos?

 

Sobe o mesmo assunto, o avanço a barbárie, vou ler um texto do jornalista Fernando Molica também divulgado nas redes sociais. Ele faz menção ao assassinato cometido pelo segurança do supermercado.

 

As imagens que mostram o assassinato do jovem Pedro Gonzaga por Davi Ricardo Moreira Amâncio, segurança do supermercado Extra, revelam o absurdo grau de perversidade em que vivemos. Já seria imperdoável se o assassino “por escusável medo, surpresa ou violenta emoção” (reproduzo as palavras usadas em projeto apresentado pelo governo federal) tivesse matado o rapaz com um tiro, ou com um soco. Mas não, ele comete o homicídio de forma lenta, pensada, brutal, mesmo estando diante de dezenas de pessoas. Parece ter prazer ao se deitar sobre o corpo de sua vítima enquanto aperta seu pescoço. Atua de maneira tão natural que, enquanto mata, chega a discutir com uma mulher que tenta impedir o crime.

 

Seus colegas de trabalho, seguranças como ele, nada fazem para evitar o crime – um deles, chega a tentar impedir a filmagem da cena. O comportamento dos outros seguranças mostra que a perversidade não é apenas do assassino, está generalizada entre nós. Poucas vezes vi alto tão absurdo, tão correspondente à hoje clássica expressão banalidade do mal cunhada por Hannah Arendt. O cara mata porque se acha no dever – mais do que no direito – de matar. Mata, mata, mata é o que ouve todos os dias, é o grito que vem das ruas e dos palácios. Tem que matar, tem que matar, é o que ele repete, é o que ele faz.

 

Ele está do lado da maioria, dos que gritam, dos que aplaudem chacinas, do lado daqueles que, no lugar de fazer cumprir a lei, registram seu crime como algo menor, culposo, não intencional. É possível que sequer fosse indiciado se não houvesse imagens de seu crime. Afinal, a vítima era mais uma daquelas que, por sua cor e por sua classe social, precisam provar o tempo todo que são inocentes – e, muitas vezes, são mortas antes disso.  Pouco depois do homicídio já havia a versão, contestada pelas imagens de câmera do supermercado, de que o rapaz teria tentado roubar a arma do segurança (como se isso justificasse seu assassinato). Estamos nos transformando numa sociedade de assassinos. Todos que gritam pela morte são cúmplices daquele segurança”.

 

Ouça o comentário de Cid Benjamin:

 

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