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O depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello ontem (19) na Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as responsabilidades na crise provocada pela pandemia acabou dividindo as atenções com um outro episódio de extrema importância e gravidade: a operação da Polícia Federal que teve como alvos principais o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e o presidente do Ibama Eduardo Bim, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Foram realizadas buscas contra o titular da Pasta no governo de Jair Bolsonaro, tendo o prédio do Ministério como um dos locais averiguados. Outros servidores do Ibama também receberam a vista dos policiais. A operação, batizada de Akuanduba, que é uma divindade dos indígenas Araras, do Pará, apura crimes contra a administração pública, como corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e, especialmente, facilitação de contrabando, praticados por agentes públicos e empresários do ramo madeireiro.
Outra medida estabelecida por Alexandre de Moraes foi o afastamento imediato de Eduardo Bim da Presidência do órgão. Além dele, outros dez agentes do Ibama e do Ministério deixaram seus cargos preventivamente, como o assessor especial do gabinete do ministro, Leopoldo Penteado Butkiewicz, o superintendente de apurações de infrações ambientais do Ibama Wagner Tadeu Matiota, o diretor de proteção ambiental Olímpio Ferreira Magalhães, o coordenador de inteligência de fiscalização André Heleno Azevedo Silveira, além de outros coordenadores e diretores. Todos os investigados tiveram os sigilos bancário e fiscal quebrados, inclusive o ministro.
A principal linha de investigação, de acordo com fontes que acompanham o caso, é que funcionários do Ministério e do Ibama atuaram favorecendo indevidamente empresas dentro da administração pública, o que pode caracterizar o crime de advocacia administrativa. A PF busca provas do eventual pagamento de propina aos servidores.
Ao solicitar busca e apreensão contra Salles, a Polícia Federal descreveu a “existência de grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais” envolvendo o ministro e servidores públicos do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama. Outra informação diz respeito a um relatório financeiro elaborado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que teria detectado transações suspeitas envolvendo o escritório de advocacia do ministro. Trechos do pedido da PF foram destacados pelo ministro Alexandre de Moraes ao autorizar a operação.
Após a ação, Salles foi à Superintendência da Polícia Federal buscar informações a respeito da medida e ficou sabendo que apenas o STF poderia conceder acesso aos autos. Na saída, o ministro se disse tranquilo quanto à operação e disse que não há substância alguma nas acusações. Ele esteve reunido com o presidente Jair Bolsonaro na manhã de ontem.
Se a operação parece complicar de vez a situação de Salles, escancarar seus interesses espúrios no Ministérios e fragilizar ainda mais a gestão do ex-capitão, não é isso que aparenta o chefe do Executivo. Informações vindas de Brasília dão conta de que o governo não pretende promover a troca do ministro, que segue com apoio do Palácio do Planalto. Vamos aguardar os desdobramentos das investigações, mas é fato que esse sujeito precisa, o quanto antes, deixar a Pasta do Meio Ambiente por conta de todos os crimes que ele tem cometido.
Falando um pouquinho agora sobre o depoimento do general Eduardo Pazuello, ele surpreendeu e respondeu todas as perguntas dos senadores que compõem a CPI, mas mentiu inúmeras vezes, repetindo Ernesto Araújo e Fábio Wajngarten, ex-integrantes do governo e que já passaram por inquirição na Casa Legislativa neste caso.
O ex-ministro da Saúde, que compareceu sem farda à comissão, irritou os parlamentares em vários momentos, quando, por exemplo, disse que Bolsonaro nunca lhe deu ordens diretas para nada ou afirmou que a falta de oxigênio em Manaus durou apenas três dias.
Ele também negou ter ignorado a proposta por vacinas da farmacêutica Pfizer, no ano passado, desmentindo o que o presidente da empresa Carlos Murillo afirmou à CPI na semana passada, disse que o Brasil só acertou a compra da cota mínima de doses oferecidas pelo consórcio internacional Covax Facility pois o contrato, na opinião dele, apresentava riscos. Pazuello destacou também que o Brasil não é obrigado a seguir as orientações da Organização Mundial da Saúde a respeito dos protocolos de segurança contra a Covid-19.
Sobre a cloroquina, o ex-ministro relatou que quando chegou à pasta foi necessário fazer uma nota informativa para conter o uso do medicamento na fase final da doença, mas voltou a defender o uso de fármacos sem eficácia comprovada para o tratamento da doença. O depoimento acabou suspenso por conta do início da sessão em Plenário no Senado e deve continuar hoje
Enfim, o general tem atuado com uma desfaçatez que, se não surpreende, deixa sua situação perante a Justiça ainda mais complicada, visto que ele assumiu toda a culpa pelas medidas descabidas ordenadas por Jair Bolsonaro.
A grande questão é que, mesmo com toda a evidente inaptidão da maioria dos senadores que compõem a CPI, inclusive do relator Renan Calheiros, já há uma série de provas que evidenciam os crimes cometidos pelo presidente da República nas ações e inações diante da pandemia. As atitudes de Pazuello e Bolsonaro envergonham as Forças Armadas e mostram o quão danoso para o país foi esse sentimento antipetista provocado pelo conluio golpista jurídico-político-midiático. A conta veio em forma de genocídio do povo brasileiro.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: