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O povo boliviano deu, no último domingo, mostras de que não aceita o golpismo que foi imposto no país desde o ano passado, quando a oposição forçou a saída de Evo Morales da Presidência. No pleito do fim de semana que passou, os eleitores elegeram, ainda em primeiro turno, o candidato apoiado pelo ex-presidente, Luis Arce, do partido Movimento para o Socialismo (MAS).
Ainda que a apuração dos votos não tenha sido concluída, a pesquisa de boca de urna apontou um resultado acachapante em favor do ex-ministro da Economia e Finanças no governo de Evo. Pouco mais de 52% da população indicou que votaria em Arce, enquanto Carlos Mesa, que já foi presidente e representa o Comunidade Cidadã, deve ficar com aproximadamente 31% da preferência dos bolivianos.
O próprio Mesa já reconheceu a derrota nas urnas e disse que vai respeitar a soberania na escolha do povo boliviano. Nem mesmo a desistência da presidente interina Jeanine Añez, bem como de Jorge Quiroga, às vésperas das eleições evitará a vitória de Luis Arce em primeiro turno. O pleito foi cercado de polêmicas, não apenas pelo golpe de 2019, mas por denúncias de intimidação e hostilidade atribuídas a membros do Comunidade Cidadã.
Cerca de 100 observadores internacionais acompanharam o pleito, entre eles a deputada federal pelo PSOL de São Paulo Sâmia Bonfim. Um desses observadores, aliás, chegou a ser preso por 10 horas quando entrava na Bolívia, o parlamentar argentino Federico Fagioli.
Fato é que a vitória acachapante de Luis Arce nas eleições bolivianas é mais um alento em meio à onda conservadora que tomou conta da América do Sul nos últimos anos, mas, aos poucos, vai sendo derrotada. Temos na Argentina o governo kirchnerista de Alberto Fernández, o Chile enfrenta uma série de manifestações populares desde o ano passado que vão culminar com eleições no próximo domingo para decidir sobre uma nova constituinte, pondo fim à Constituição escrita durante a ditadura de Augusto Pinochet.
Falta agora o Brasil definitivamente abandonar o bolsonarismo, e a primeira mostra de reação dos brasileiros precisa acontecer nessas eleições municipais, em menos de um mês, com a escolha de prefeitos e vereadores que defendam os direitos da população pobre em oposição a esse ultraliberalismo praticado há décadas no nosso país. Que o exemplo do povo boliviano também nos contagie por aqui.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: