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Um dos momentos mais aguardados dessa semana se dá nesta terça-feira (21), quando o presidente Jair Bolsonaro discursará para os demais chefes de Estado na reunião anual da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. Essa ida aos Estados Unidos, que será a primeira aparição internacional do chefe do Executivo brasileiro depois daqueles atos atentatórios do Dia da Independência, se dá envolta a uma série de dúvidas, mas com uma certeza:
Bolsonaro é o único líder entre as 20 maiores economias do mundo que ainda não recebeu nenhuma das doses das vacinas contra a Covid-19, e por opção pessoal. No domingo, quando chegou ao país norte-americano, o presidente se viu obrigado a comer pizza na rua porque todos os restaurantes de Nova Iorque exigem o comprovante de imunização para seus frequentadores. Mais uma vergonha internacional que o Brasil passa nessa gestão do ex-capitão.
A expectativa é que Bolsonaro fale sobre as “conquistas” nos seus mil dias de governo, que serão completados no fim do mês. A grande questão é que o mundo pressiona o chefe de Estado brasileiro por um posicionamento contundente em relação à necessidade de redução do desmatamento das nossas florestas por conta, evidentemente, dos efeitos que as mudanças climáticas já provocam no mundo.
Vamos aguardar para ver qual será o tom do discurso de Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU. Eu gostaria também de aproveitar para fazer a leitura da coluna do doutor em sociologia pela Universidade de Oxford Celso Rocha de Barros, publicada no último domingo (19) pelo jornal Folha de S. Paulo, mas que vale a pena ser retomada, onde ele fala sobre as articulações dos partidos para abandonarem a polarização Lula-Bolsonaro nas eleições do ano que vem. O título da coluna é “Terceira via é difícil enquanto jantar de Temer se satisfizer com Bolsonaro“:
“O debate sobre “terceira via” tem um problema de contagem de vias.
A segunda via é o PT, que conseguiu vencer em 2002 após longo período na oposição.
A via número zero é Bolsonaro, que não quer ganhar eleições. Quer dar golpe de Estado para que a turma que tem dinheiro e armas volte a não precisar fazer concessões para quem não tem nenhum dos dois. Como era antes da democracia.
A maior parte dos candidatos da “terceira via” não está tentando construir uma nova via. Está é tentando reconstruir a primeira, a direita que jogava o jogo da democracia e governou o Brasil nas primeiras décadas da Nova República.
O que impede essa reconstrução é que boa parte da base social da direita —os empresários, os pastores, a classe média tradicional— ainda não desistiu completamente da via, digamos, 0,5.
A turma acha o golpismo de Bolsonaro meio desnecessário. Mas todo mundo ali gostou da ideia de que dá para ganhar voto de pobre só com igreja, sem essas coisas de Bolsa Família, negros na universidade etc.
O maior sinal dessa virada, na minha lembrança, ocorreu logo depois do impeachment, quando Michel Temer e Gilmar Mendes mataram a possibilidade de novas eleições. Na época, o MBL postou em suas redes: “Nós não fizemos isso tudo pra vocês votarem na Marina”.
Marina Silva foi a candidata “terceira via” mais forte da história eleitoral brasileira. Ela, sim, tentou fazer uma “integração de legados” de PT e PSDB e reuniu uma aliança de dissidentes dos dois lados.
Tinha muito mais direito de se reivindicar como candidata anticorrupção do que Jair “Queiroz” Bolsonaro jamais teve. Liderou as pesquisas presidenciais depois do impeachment.
Mas Marina vinha com concessões demais ao progressismo —meio ambiente, tributação progressiva, política social— e, sem o PT no quadro disputando com a gente, pensou a burguesia brasileira, pra que isso tudo?
A questão para a terceira via em 2022 é a seguinte: qual a proporção da base social da direita que, mesmo diante do desastre que foi o governo Bolsonaro, tem interesse em voltar a fazer concessões a quem não tem dinheiro nem armas?
Até o momento, bem menos do que seria necessário para eleger um “terceira via”. O apoio a Bolsonaro entre empresários ainda é muito maior do que no resto da população.
A atitude da elite brasileira diante de Bolsonaro é a da turma no jantar de Temer com Naji Nahas: para quem continua ganhando dinheiro, o fascismo é até engraçado.
Tudo isso ficou claro na passeata do dia 12, quando o jantar do Temer pareceu dizer ao MBL: ‘Nós não fizemos isso tudo pra ter que voltar a fazer passeata com vocês’.
Nenhum dos partidos de direita, de qualquer matiz, investiu na manifestação. Os ricos, que pagaram anúncio contra Dilma em toda a mídia em 2016, não pagaram dessa vez. A Força Sindical, que mandava multidões para a Paulista em 2015, não foi.
Aplaudo a direita que está tentando se organizar fora do fascismo, aplaudo a iniciativa do MBL de convocar a manifestação.
Mas deixo meu aviso aos jovens liberais que se animaram durante a crise do PT: a média da direita brasileira é isso aí, o jantar do Temer. É difícil organizar um movimento forte para lutar em campo aberto quando tanta gente do seu lado já se dá bem só com jogo dos bastidores”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: