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O presidente Jair Bolsonaro foi protagonista, nos últimos dias e como de costume, de mais um espetáculo de declarações estapafúrdias e preconceituosas, proferidas sequer na mais rasa conversa de botequim.
No vasto cardápio de absurdos ditos pelo ex-capitão do Exército do final da semana passada para cá estão a afirmação de que é uma “mentira” dizer que existe fome no Brasil, a necessidade de se impor um filtro de censura na Agência Nacional do Cinema, a Ancine, para que não se produza filmes como ‘Bruna surfistinha’, a negação à tortura sofrida pela jornalista Miriam Leitão durante o período da ditadura, o qual exalta e defende com unhas e dentes, o reconhecimento de que quer dar o “filé mignon” da Embaixada dos Estados Unidos ao filho Eduardo Bolsonaro, o zero três, em um sinal claro de nepotismo, a declaração de que a mulher seria uma ‘fritadora de ovo’, cujo desempenho negativo pode gerar crise matrimonial, a crítica a uma ‘psicose ambiental’ daqueles que defendem a Amazônia, com direito a classificar os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, relativos ao aumento do desmatamento na Amazônia nos seus primeiros meses de mandato como mentirosos, alegando que a instituição estaria ‘a serviço de alguma ONG.
De todas as frases recentes do político do PSL, porém, talvez a que tenha caráter mais odioso e grosseiro seja aquela, captada pelos microfones da pública TV Brasil, onde ele se referiu, de maneira ofensiva, à região nordeste como ‘paraíba’, citando o governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) como ‘o pior deles’ e dizendo que ‘não deve ter nada para o cara’.
Quando resume o Nordeste a um estado em um daqueles tradicionais discursos preconceituosos reproduzidos por décadas pela mediocridade retórica, Bolsonaro não está ‘apenas’ atacando uma das regiões que mais sofre com o abismo social existente no nosso país, ele comete crime de responsabilidade ao “usar de violência ou ameaça contra algum representante da Nação para afastá-lo da Câmara a que pertença ou para coagi-lo no modo de exercer o seu mandato…”.
Além disso, pela Constituição Federal de 1988, o presidente comete crime comum, violando a Lei 7.716, conhecida como ‘Lei do Racismo’, que dispõe em seu Artigo 1º: “Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
É necessária uma ação firme não apenas dos parlamentares em Brasília, mas de toda a população brasileira contra um político que destila repulsa e fúria desde o período em que era um deputado federal de atuação medíocre.
Por abominar o conhecimento científico e a educação, talvez sua contrariedade a Flávio Dino esteja baseada no fato de que o governador do Maranhão, em quatro anos de mandato, levou seu estado do 22º para o 13º lugar no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb. Ou então porque o professor, por lá, tenha o maior salário do país, com R$ 5 750,84, com mais de 30% de reajuste em um mandato.
O apoio a Bolsonaro para quem tem acesso mínimo à informação, mesmo via mídia dominante, há muito não pode ser creditado a uma linha ideológica conservadora nos costumes ou liberal na economia, ou até ao discurso do ‘tem de mudar isso aí’. A defesa desse tipo de postura é mau-caratismo. Clássico.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: