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A falta de responsabilidade da gestão de Jair Bolsonaro há tempos já ultrapassou o nível da desumanidade, mas o presidente da República demonstrou que sempre é capaz de se superar. Me refiro ao anúncio do Ministério da Saúde, através do secretário-executivo Elcio Franco, de que não há interesse de compra por parte do Governo Federal da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac.
A declaração surge um dia depois de o ministro general Eduardo Pazuello dizer, ao lado do governador de São Paulo João Doria (PSDB), que a União vai adquirir 46 milhões de doses da Coronavac, produzida em parceria com o Instituto Butantã. Bolsonaro teria ficado irritado ao ver o seu ministro anunciando a medida ao lado do desafeto político. Na manhã de ontem, o presidente publicou nas redes sociais a afirmação de que o Brasil não vai comprar “a vacina da China”.
A frase foi escrita em resposta a uma seguidora do ex-capitão do Exército que chamou Pazuello de traíra, observando que o ministro estaria atuando como cabo eleitoral de Doria. Mais cedo, o presidente desautorizou o titular da Saúde em mensagem enviada aos demais ministros do governo.
Os desentendimentos entre Bolsonaro e João Doria já vêm desde o ano passado, quando o governador de São Paulo demonstrou interesse em disputar a Presidência em 2022, mas se intensificaram após o início da pandemia no Brasil, por volta ali do mês de março. O político do PSDB tem atacado com veemência a maneira com que o chefe do Executivo federal tem lidado com a doença. Desta vez, há o componente ideológico neste debate, já que a Coronavac está sendo desenvolvida por um laboratório da China, país que o ex-capitão e seus ministros não cansam de criticar.
A grande questão é que uma desavença de caráter político-ideológico não pode se colocar acima da saúde do povo brasileiro. A Covid-19 já matou mais de 150 mil pessoas no Brasil e os números não param de crescer. Desde o início da pandemia, Bolsonaro já demitiu dois ministros e recorreu a um militar para tentar colocar em prática suas teses anticiência. O liberal com o mínimo de responsabilidade do Mandetta não serviu, tampouco o mercador da saúde Nelson Teich. Se o general alinhado ao presidente também for dispensado, restarão talvez os filhos de Bolsonaro, o Carluxo e o Bananinha.
A tragédia do Brasil só se amplia e o presidente da República vai acumulando crimes de responsabilidade. Se o Supremo Tribunal Federal não atuar de maneira firme para garantir o acesso dos brasileiros à vacina chinesa, talvez a que esteja mais avançada nas testagens quanto à sua eficácia contra o novo coronavírus, ficará mais do que provado que o nosso Judiciário é conivente no projeto genocida de Jair Bolsonaro.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: