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O horror que o Brasil atravessa neste governo do senhor Jair Bolsonaro foi representado ontem (22) no depoimento do diretor-executivo da Prevent Senior Pedro Benedito Batista Júnior à CPI da Pandemia. A operadora de planos de saúde é acusada de ocultar mortes de pacientes em um estudo realizado para a testagem de medicamentos ineficazes no tratamento da Covid-19 sem a autorização das famílias dos que teriam sido selecionados para participarem do tal experimento.
O médico, como era de se esperar, negou que a empresa tenha fraudado os resultados do estudo, ocultando óbitos, e culpou dois ex-funcionários de terem manipulado dados de uma planilha interna para tentar comprometer a operadora. Ele também se negou a comentar casos específicos de alguns pacientes que teriam morrido por Covid-19 para preservar as famílias. Esse cuidado com os familiares só faltou quando a operadora não pediu a anuência para a realização da tal pesquisa com os doentes. É muito cinismo dessa gente.
O que chama a atenção é que a falsificação, ao que parece, não se deu apenas no resultado dos estudos. Documentos enviados aos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito evidenciam que o médico Anthony Wong, conhecido por defender o “tratamento precoce” contra o coronavírus, foi submetido aos mesmos medicamentos cujo uso defendia em um hospital da Prevent Senior. Só que o fato de ele ter morrido por complicações da Covid-19 foi omitido de sua certidão de óbito.
Esse médico foi internado em um hospital da rede da operadora, o Santa Maggiore, em 17 de novembro do ano passado e assinou, no mesmo dia, um termo autorizando o uso de hidroxicloroquina e também da ozonioterapia. Vale ressaltar que essa tal de ozonioterapia é proibida pelo Conselho Federal de Medicina, entidade reconhecidamente bolsonarista.
Wong faleceu no dia 15 de janeiro último, sendo que a causa da morte não foi divulgada pela família. Esse tipo de prática adotada pela Prevent Senior, é bom lembrar, se dava com a anuência do Governo Federal. Por falar nisso, eu quero aproveitar para fazer a leitura nesse editorial da coluna do jornalista Chico Alves, publicada ontem no site UOL, onde ele trata desse histórico da gestão Bolsonaro na adoção do tratamento precoce contra a Covid-19. O título do texto é “Sem autonomia: governo Bolsonaro quis obrigar prescrição de cloroquina”:
“Em seu discurso de ontem, na abertura da 76ª assembleia geral da ONU, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu o tratamento precoce contra a covid-19. O procedimento, que consiste na prescrição de cloroquina, ivermectina e azitromicina, é refutado pelas principais autoridades científicas internacionais. Apesar disso, Bolsonaro defendeu o chamado tratamento off-label (fora da bula).
‘Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina’, disse o presidente.
Na prática, porém, a fixação do Ministério da Saúde por estes medicamentos inadequados levou servidores graduados da pasta a planejarem formas de tornar obrigatória aos médicos de Manaus a prescrição do chamado ‘kit covid’. Isso aconteceu no início do ano, quando o Amazonas atravessava o pior momento da pandemia.
Em janeiro, em plena crise da falta de oxigênio, o ministério enviou à capital amazonense 11 médicos que tinham a missão de fazer com que os profissionais de saúde receitassem medicamentos sem eficácia para combater o coronavírus.
O resultado do trabalho de três semanas desse grupo foi relatado em e-mails à secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro (investigada pela CPI da Covid e que ficou conhecida como ‘capitã cloroquina’), e ao secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, Hélio Angotti.
A CPI teve acesso às mensagens, cujo título era ‘Relatório UBS Manaus’. Em um dos e-mails, um dos médicos, Gustavo Vinícius Pasquarelli Queiroz, informou que colegas resistiam a prescrever os remédios ineficazes. Diante disso, sugeriu que fossem instaladas “tendas de tratamento precoce”, com profissionais que concordavam com essa terapia. ‘Para não haver discordâncias entre as prescrições, sugiro a criação de um ‘kit’’, escreveu.
E foi além: ‘Daríamos a opção dos doentes escolherem e não dos profissionais (ou seja, a decisão passaria dos médicos aos pacientes). Visto que atualmente, os doentes têm que ter a ‘sorte’ de ser atendido (sic) por um médico prescritor do tratamento precoce. Com as tendas, a decisão fica a cargo dos pacientes’.
Na mesma mensagem, o médico Luciano Dias Azevedo (investigado pela CPI por integrar o chamado gabinete paralelo) deu outras orientações quanto ao assunto: “Problema: Poucos médicos que prescrevem o tratamento precoce. Solução: Aumentar o número de profissionais médicos que prescrevem tratamento precoce nas unidades básicas e/ou dar autonomia de prescrição para os enfermeiros treinados no escore clínico associado a treinamento na identificação das fases da doença para prescreverem os pacientes e moradores do mesmo lar”.
Apesar dessa ação, que vai na contramão da autonomia dos profissionais de saúde, Bolsonaro disse na ONU que seu governo respeita ‘a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso ‘off-label’’. A experiência em Manaus, no entanto, mostrou o contrário.
‘O discurso de ‘autonomia do médico’ é mais um fake do presidente da República’, disse à coluna o vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). ‘As informações da comissão mostram claramente que no caso de Manaus não existiu respeito a nenhuma autonomia, houve imposição para utilização do tratamento precoce que é comprovadamente ineficaz, o tal kit covid. No caso da Prevent Senior, as informações que temos são as mesmas. Ali, apesar de não ter a participação do governo, teve o apoio governamental, o incentivo do presidente da República. Essa falada autonomia é falsa’”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: