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Editorial – 24.01.2020

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Ontem o presidente Bolsonaro levantou a ideia da recriação do Ministério de Segurança Pública, isso, obviamente enfraqueceria o seu ministro da Justiça Sérgio Moro. O Sérgio Moro andava muito contente inclusive com a aprovação do pacote anticrime, especialmente depois que o senhor Luiz Fux suspendeu a aplicação, por tempo indeterminado, do instituto do juiz de garantias, algo que incomodava a Sérgio Moro. É verdade que esse tipo de decisão monocrática de Luiz Fux, que ocupa a Presidência interina do Supremo, provocou também muito descontentamento entre os membros do próprio Supremo.

 

Os jornais de hoje trazem informações de que há pressões para que a matéria seja submetida imediatamente ao plenário do Supremo como forma de dirimir de vez essa questão. Há uma divisão no Supremo Tribunal Federal claramente em torno dessa questão, bem como de outras, o Supremo tem se transformado em uma arena de disputa política onde o que menos vale é a letra da Constituição. Mas, voltando à ideia da recriação do Ministério da Segurança Pública, tudo indica que isso é uma consequência direta das aspirações que separam Bolsonaro e Sérgio Moro.

 

Parece que ambos olham com muito interesse as eleições de 2022. Independentemente da distância da data onde teremos uma nova eleição para a Presidência da República, está claro que Moro tem um comportamento, especialmente para Bolsonaro, que parece ser de candidato. Especialmente para quem assistiu o último programa Roda Viva, fica claro que Sérgio Moro encarna com muito gosto a ideia de assumir claramente suas posições políticas e projetá-las para uma futura campanha presidencial. É em torno dessa questão que, talvez, tenhamos que interpretar essa proposta de se recriar o Ministério da Segurança Pública.

 

Caso isso seja feito, alguns órgãos importantes que hoje estão subordinados a Sérgio Moro passariam ao controle desse Ministério, que, dizem, está destinado a um aliado de primeira hora do Bolsonaro, aquele ex-capitão Fraga, que já foi deputado federal e concorreu nas últimas eleições ao governo do Distrito Federal. Fraga é uma espécie de braço direito de Bolsonaro, e com esse tipo de mudança, caso ela seja efetivada e esse mistério seja recriado, a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, o Departamento Penitenciário Nacional, todos sairiam da órbita de mando do Sérgio Moro, e o Sérgio Moro evidentemente já se manifestou contrário a essa ideia.

 

O próprio Bolsonaro, ao mencionar essa ideia da recriação do Ministério da Segurança Pública, ele mesmo admitiu que isso iria trazer descontentamentos ao Sérgio Moro. Parece, portanto, que tudo é bastante estudado e o que está em jogo é justamente a capitalização de toda essa extrema-direita que hoje se divide, em termos de liderança, justamente entre Bolsonaro e Sérgio Moro. Sérgio Moro, para muitos, é apresentado como uma espécie de paladino da justiça e, ao mesmo tempo, corre o risco de cada vez mais se colocar como uma ameaça às pretensões de Bolsonaro, que já declarou não somente querer ser reeleito, mas até mesmo já especulou a respeito de um terceiro mandato.

 

Então as aspirações de Bolsonaro vão longe, a grande questão é em que medida o próprio bloco da extrema-direita irá se dividir entre as suas lideranças, Bolsonaro e Sérgio Moro. Portanto, há muita agua para correr debaixo da ponte especialmente em um momento em que Bolsonaro continua com suas verdades. Ontem ele afirmou que o índio é um ser humano igual a nós, e eu confesso que fiquei pensando que tipo de ser humano Bolsonaro, na verdade, está se referindo. Cada vez mais fica claro que existe uma separação gigantesca entre as concepções de Bolsonaro e a grande maioria da população brasileira, que, na verdade, quer apenas justiça, igualdade e, principalmente, segurança para o seu dia a dia. Bolsonaro, me parece, é uma ameaça a essas três questões.

 

Ouça o comentário de Paulo Passarinho:

 

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