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Ainda que o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União tenha colocado sub judice a troca na Presidência da Petrobras, o Conselho de Administração da empresa convocou ontem a realização de uma Assembleia Geral Extraordinária para avaliar o nome do general Joaquim Silva e Luna para substituir Roberto Castello Branco, após indicação de Jair Bolsonaro. Desta forma, caso o TCU não veja empecilhos, ao que tudo indica o militar da reserva passará a ocupar o posto com a missão, entregue pelo ex-capitão, de promover a mudança na política de preços da empresa, algo que o mercado abomina, mas que o povo brasileiro necessita com urgência, dados os constantes aumentos dos derivados de petróleo no país.
Afora essa notícia, eu gostaria de fazer a leitura para vocês, ouvintes, de um artigo publicado ontem pelo doutor em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Raphael Fagundes, pelo site da Revista Fórum, onde ele faz uma interessante leitura sobre os movimentos recentes de Jair Bolsonaro. O título do artigo é “Por que o mercado e a Globo não terão forças para derrubar Bolsonaro?”:
“Dois aspectos marxistas de Bolsonaro são a aliança com militares e a intervenção ideológica na cultura. Dois aspectos que o PT não adotou.
É um mito acreditar que o PT introduziu o marxismo nas universidades, por exemplo. Havia mais professores universitários marxistas durante a Ditadura Militar que durante os governos petistas. Inclusive, muitos abandonaram os ideais revolucionários após a Ditadura, como Fernando Gabeira e Fernando Henrique Cardoso.
Muitos professores universitários defendiam o PT, mas estavam longe de serem marxistas. É possível observar que grande parte adotou uma jornada antimarxista em nome de modelos interpretativos foucaultianos ou decorrente da miríade intelectual pós-estruturalista.
O setor ideológico do governo Bolsonaro, liderado por Olavo de Carvalho, adotou perspectivas gramscianas que acreditam na cultura como um dos principais elementos para a transformação social. Adota o intelectual marxista como método para fazer o contrário do que o italiano revolucionário defendia: a libertação das forças produtivas em direção ao socialismo.
Já a questão militar lembra muito os governos bolivarianos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, que flertam com o socialismo. Uma das estratégias usadas por Chávez foi ceder campo aos militares, entregando indústrias e setores do governo para controle das Forças Armadas.
O governo Bolsonaro vem fazendo a mesma coisa. Agora ficou mais claro, com o novo presidente general da Petrobras. Não seria nenhuma surpresa se fizer o mesmo em relação à Eletrobras e ao Banco do Brasil.
Bolsonaro usa a estratégia adotada pela Venezuela para fazer justamente o oposto que o país de Bolívar. No caso deste último, era a independência em relação ao imperialismo. No caso do nosso conservador chamado de “mito”, a submissão completa aos interesses norte-americanos.
São estratégias que deram certo, que o PT se recusou a usar, primeiro por não ser marxista, segundo por não conseguir ter uma aproximação ideológica com as Forças Armadas, devido ao fato de estas serem historicamente reacionárias e por não se sentirem culpadas pelas atrocidades que cometeram no passado. Isso é legitimado porque o Judiciário não julgou os crimes da caserna durante a Ditadura Civil-Militar.
Dilma foi presa, os militares torturadores não. Dilma agiu ilegalmente, os torturadores não. Pelo menos na prática. Isso deu legitimidade para que uma ideologia pudesse surgir sendo capaz de reproduzir o seguinte discurso: Dilma foi uma terrorista.
Deste modo, uma queda de Bolsonaro decorrente do fato de interferir na economia dificilmente acontecerá. O PT tinha um projeto muito mais desenvolvimentista (que a Globo e o mercado, em conluio com a operação Lava-Jato, tinham o objetivo de destruir) do que o de Bolsonaro. O mercado não está preocupado com a intervenção em si (embora haja uma queda imediata nas ações da Petrobras), mas com o projeto de poder. O de Bolsonaro é muito mais entreguista, ou seja, agrada muito mais o mercado financeiro que o de Dilma”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: