Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:

Editorial – 24.04.2020

Compartilhe:
editorial_1170x530

Enquanto o Brasil observa os números da tragédia provocada pelo novo coronavírus se ampliarem de maneira assustadora – só ontem foram 407 mortes registradas, isso sem falar naquelas que não são computadas pelos dados oficiais dada a insuficiência de testes para detectar a Covid-19 -, o mundo da política em Brasília parece alheio a tudo isso.

 

Cada vez mais isolado no Palácio do Planalto por conta de suas posturas irresponsáveis e em desacordo com os preceitos constitucionais, o presidente Jair Bolsonaro buscou mais uma vez socorro naquilo que ele sempre condenou em campanha e prometeu não fazer durante o seu mandato: a velha política.

 

O ex-capitão do Exército tem se aproximado dos parlamentares do baixo clero na Câmara dos Deputados e chegou a oferecer cargos em diretorias de estatais e no segundo escalão do governo, tudo isso para enfraquecer o presidente da Casa Legislativa Rodrigo Maia, um de seus principais desafetos em Brasília, na tentativa de eleger seu sucessor para presidir a Câmara, no fim do ano.

 

Além disso, para conquistar a confiança desse pessoal, Bolsonaro ofereceu aos deputados do chamado Centrão a cabeça de um dos principais nomes de sua gestão, que conta com grande aprovação popular, mas se deslocou do Palácio do Planalto desde o início da crise da Covid-19, o ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro.

 

Boa parte do Legislativo tem ojeriza ao ex-juiz por conta de sua defesa intransigente à Lava Jato, que investiga uma série de parlamentares desses partidos mais fisiológicos. O presidente da República deseja substituir o diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo, homem de confiança de Moro. O ministro avisou que se seu braço direito desde a operação anticorrupção for exonerado do cargo, também deixará o governo.

 

A manobra de Bolsonaro na troca da cúpula da PF tem a intenção também de livrar seus filhos, alvos de investigações da polícia no Rio. Outra motivação seria a abertura de inquérito para apurar a organização do ato pedindo uma intervenção militar do qual Bolsonaro participou no último domingo, quando se comemorou o dia do Exército.

 

A ala militar do Palácio do Planalto, aliás, começa a ganhar um protagonismo ainda maior no governo. Prova disso foi o lançamento pelo ministro chefe da Casa Civil, general Braga Neto, na última quarta-feira, do programa Pró-Brasil, que prevê investimentos públicos e privados em infraestrutura para promover o crescimento do país nos próximos 10 anos.

 

O plano não conta com a anuência do ministro da Economia Paulo Guedes, que sequer participou da sua coletiva de anúncio, em Brasília. Como um bom liberal, ele descarta a utilização de verbas governamentais e quer concentrar os investimentos nas mãos da iniciativa privada com a entrega das estatais. O Posto Ipiranga de Bolsonaro é outro que começa a passar por um processo de fritura pelos desentendimentos com o presidente.

 

Fato é que o tal plano Pró-Brasil, que chegou a ser apelidado de ‘Plano Marshall’ brasileiro, sendo demonizado pelos neoliberais da mídia dominante, é incapaz de produzir resultados. Ainda que ele estabeleça a utilização de dinheiro público para impulsionar o crescimento do país, o volume de recursos destinado é absolutamente insuficiente, cerca de R$ 30 bilhões até 2030. Outros R$ 270 bilhões seriam aportados em forma de concessões.

 

A questão que se coloca é que a emergência provocada pela pandemia se amplia a cada dia e o ministro da Saúde Nelson Teich, bem como alguns governadores, quer flexibilizar a estratégia de isolamento social para fazer a economia voltar a girar, pondo em risco boa parte da população brasileira. Enquanto o mundo da política não abandonar seu caráter rentista e suas disputas de poder, quem sofrerá é o elo mais fraco dessa corrente, o povo trabalhador, este sim que produz riqueza para o país.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

Deixe seu comentário:

Apoie o Faixa Livre:

Apoie o Faixa Livre:

Baixe nosso App

Baixe nosso App

Programas anteriores