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Ontem a Boeing norte-americana anunciou que o novo nome da companhia resultante da fusão entre a empresa e a nossa Embraer será Boeing Brasil Comercial, isso mostra muito bem para onde vamos. Nós temos um modelo econômico no Brasil que desde os anos 1990 vem nos impondo taxas médias de crescimento muito baixas, geração de empregos muito aquém daquilo que poderíamos e necessitaríamos ter, mas, principalmente, muita desindustrialização e, porque não dizer, esse exemplo da Boeing com a Embraer mostra bem isso, a desnacionalização do nosso parque produtivo.
O acordo entre a Boeing e a Embraer para formação dessa nova empresa na área de aviação comercial, um acordo no qual 80% ficam nas mãos dos americanos, deveria ser considerado um atentado à soberania nacional, até porque a Embraer é símbolo de uma era onde o Brasil almejava conquistar o mínimo de autonomia, de desenvolvimento industrial. Esse passado vai ficando muito longínquo, e é lamentável que em um quadro como esse, nós tenhamos o próprio incentivo dos governos, porque essa história começou já há algum tempo. Não é possível que a gente coloque toda essa responsabilidade nas mãos do atual governo, mas é evidente que ele olha com muito bons olhos esse tipo de entrega de um patrimônio brasileiro aos americanos.
O segmento de aviação comercial da Embraer emprega milhares de pessoas aqui no Brasil e, particularmente, em São Paulo. É uma empresa que produz tecnologia e produtos de alto valor agregado, os contratos fechados pelo segmento entregue aos americanos nos últimos anos irão garantir uma receita de mais de US$ 50 bilhões, e isso é mais do que 10 vezes o valor irrisório pelo qual a empresa foi vendida, e pior, em um segmento em que a Embraer é líder mundial, de aviões de médio porte, aviões regionais que a Embraer vende para todo mundo e que apresenta, segundo relatórios da própria empresa, um potencial de venda de US$ 600 bilhões nos próximos 20 anos.
Portanto, abrir mão desse potencial de desenvolvimento tecnológico significa deixar de lado uma experiência exitosa de construção de uma empresa com autonomia tecnológica e onde muitos empregos serão perdidos em toda a cadeia produtiva que foi montada nesses últimos anos. Por isso, nós lamentamos profundamente que esse tipo de operação seja um retrato, na verdade, desse Brasil que vai se decompondo ou se desmanchando conforme parece é o propósito do general Mourão e do capitão Bolsonaro.
A grande questão que se coloca é que essa turma chegou ao Palácio do Planalto em um processo eleitoral e, porque não dizer, em um processo político que se iniciou com o impedimento da Dilma eivado de irregularidades, até mesmo crimes. O candidato que foi eleito no ano passado claramente fez uma pregação odiosa, anticonstitucional, pregando até mesmo a eliminação física dos seus adversários, e tudo isso passou incólume pelo Tribunal Superior Eleitoral, pelo Supremo Tribunal Federal e pela própria consciência brasileira, afinal de contas, ainda que tenha sido não uma maioria do eleitorado, porque essa maioria votou em outros candidatos ou simplesmente se absteve, mas aqueles que escolheram um candidato, a maioria escolheu inacreditavelmente essa dupla composta pelo capitão e pelo general.
Dizem que as Forças Armadas têm uma raiz nacionalista, isso certamente ocorreu durante boa parte do século XX. Agora no século XXI parece que esses militares aprontam uma grande vingança contra o país. Essa geração de militares que inclusive impulsionou e organizou a vitória de Bolsonaro, tendo à frente o general Villas Bôas, é uma geração que talvez tenha acumulado muitos ressentimentos, afinal de contas eles não tiveram participação direta nos crimes da ditadura, mas claramente arcaram com essas responsabilidades ao longo de suas respectivas carreiras.
É hora da sociedade, principalmente dos trabalhadores reagirem, mas como fazê-lo no meio a essa ditadura midiática que estamos assistindo em torno desse atentado que é o ataque à Previdência Social pública, com todas as mentiras que são veiculadas diuturnamente pelos rádios, pelas televisões? Estamos em uma quadra gravíssima e, por isso, precisamos reagir. Vamos reagir naquilo que é possível, combatendo todas as mentiras que são apresentadas na mídia e no Congresso para defender o indefensável, especialmente em torno da Previdência Social pública e do próprio conceito de seguridade social.
Mas temos muitas outras batalhas pela frente. Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, a matança contra os pobres está em curso e é por isso que teremos uma manifestação, essa será exitosa, no próximo domingo, com concentração a partir das 10h lá no posto 8 da orla de Ipanema. Será uma resposta cabal, firme contra todos aqueles que atentam em relação à vida humana e à soberania nacional. Sobre a manifestação convocada pelos bolsonaristas, estou pagando para ver.
Quero ver quantas pessoas irão para as ruas e em que lugar, até porque a Rede Globo não está incentivando essa manifestação e, mais do que isso, os próprios bolsonaristas estão divididos, sem falar no comandante Jair Bolsonaro que ontem, de forma surpreendente, até certo ponto, sugeriu que os manifestantes não defendam o fechamento do Supremo e do Congresso. Ele, que depois de vários episódios, não poupou críticas à chamada velha política para consagrar a barbárie, a ignorância e a entrega das nossas riquezas.
É com relação a isso que temos de lutar permanentemente. Domingo vamos às ruas para defender aqueles que estão sendo massacrados por uma polícia criminosa, mas a nossa luta continuará. Teremos marcados certamente o encontro no dia 30 de maio, quando o setor de educação volta às ruas, mas, principalmente, queremos que no dia 14 de junho, dia de greve geral convocada pelas centrais sindicais, a resposta seja cada vez mais intensa para que a gente derrote definitivamente aqueles que querem destruir o nosso país.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: