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O presidente Jair Bolsonaro voltou a dar um péssimo exemplo em tempos de pandemia, como de costume, ao realizar no dia de ontem (23) um ato pelas ruas do Rio de Janeiro, uma carreata liderada por motoqueiros, tendo o ex-capitão à frente. A manifestação começou na Barra da Tijuca, zona Oeste da capital, percorreu aproximadamente 60km até se encerrar no Monumento aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, região central da cidade.
Ao fim do evento, que contou com aqueles já tradicionais e criminosos cartazes exaltando o autoritarismo no país, pedindo intervenção militar, o chefe do Executivo discursou por cerca de 5 minutos para os seus apoiadores, elogiou os valores conservadores e viu um locutor questionar os presentes a respeito do voto impresso, pauta defendida historicamente por Bolsonaro e em debate no Congresso.
No entanto, também houve manifestações contrárias ao presidente da República durante o percurso, com panelaços e palavras de ordem. Um grupo de LGBT’s utilizou uma enorme faixa criticando a “motociata”. Fato é que Bolsonaro se articula junto a seus apoiadores tentando reverter o movimento apontado pelas últimas pesquisas de opinião, que mostram a popularidade do ex-capitão desabando e o ex-presidente Lula muito à sua frente na disputa pelo Palácio do Planalto em 2022.
Se esse tipo de atitude dará certo, só o tempo dirá. No próximo sábado, dia 29, será a vez dos manifestantes pró-democracia irem às ruas pedindo a saída do ex-capitão da Presidência e o fim desse morticínio que está colocado. Ainda que o risco de infecção pela Covid-19 esteja elevado, o brasileiro não aguenta mais assistir de camarote o país sendo entregue ao capital estrangeiro, o desemprego aumentando assustadoramente e as condições de vida se degradando a cada dia que passa. Vamos ver qual será a adesão popular a esse Dia Nacional de Manifestações e Paralisações, organizado pelas principais centrais sindicais.
Eu citei há pouco o ex-presidente Lula e no final da semana acabou provocando enorme repercussão uma foto de um encontro entre o petista e o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ambos participaram de um almoço organizado pelo ex-ministro Nelson Jobim, em São Paulo, cerca de duas semanas atrás, ainda que a imagem só tenha sido divulgada na sexta passada. Em suas redes sociais, Lula disse que a refeição teve muita democracia no cardápio. Eu confesso a vocês que não me causou qualquer surpresa essa reunião entre os ex-presidentes. Lula tem cada dia mais se movimentado à direita do espectro político sob o argumento de formar uma ampla aliança para derrotar o bolsonarismo.
O problema é que foi justamente esse PSDB que, a partir das eleições de 2014, deu início a esse movimento golpista que provocou a queda de Dilma Rousseff e a ascensão do protofascismo no país. O petista, com essa atitude, apenas valida todo esse processo. Sobre esse encontro, eu quero aproveitar para ler o que o jornalista e nosso amigo Milton Temer escreveu nas suas redes sociais, em uma análise, como sempre, muito precisa. Diz o Milton:
“Lula pacificado, afirma FHC, segundo informa prestigiada colunista da Folha – ‘Em um debate online promovido pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa, FHC declarou que quer uma terceira via para 2022. (…) E seguiu: Acho melhor terceira via, mas, se não houver, quem não tem cão caça com gato. E, no caso, o gato não é tão feroz, não é uma onça. É um gato pacificado, já tem experiência. A vida ensina. Pelo menos alguns aprendem. É melhor apostar’.
A informação vem como prato de entrada no encontro de Lula com FHC, em almoço organizado por Nelson Jobim. Vem para acabar com a ilusão de que a luta contra o bolsonarismo e suas sequelas sociais e sanitárias teria uma saída progressista, com Lula voltando ao governo. Que atentem para isso os precipitados que, na omissão de uma adesão ainda envergonhada a Lula num eventual primeiro turno de 2022, renegam a tradição de candidatura própria do PSOL em todas as presidenciais depois de sua fundação, ocultando-se num “ainda é cedo para falar em 2022”.
2022 já está a pleno vapor, para a direita dissimulada em centro, para Ciro e para Lula, para além do próprio Bolsonaro, mesmo que nenhum deles possa estar no cenário quando o carnaval chegar. É 2022 que norteia inclusive os movimentos para o momento atual. Com Lula e o neoPT dando um freio de arrumação na luta pelo impeachment, e torcendo para chegar à arrancada final num confronto com o tosco-miliciano-protofascista já desmilinguido. Viraria o candidato do “governar para todos”, onde o “todos” é principalmente a patota sinistra dos maganos do manipulado “livre mercado”.
Ressalto, voto e faço campanha para Lula caso se concretize, daqui a um ano e quebrados, que ele estaria num segundo turno contra Bolsonaro. Mas voto na certeza, pelo que se anuncia nas movimentações de Lula, para fazer oposição cerrada contra o que promete ser uma repetição da farsa de 2003. Da farsa anunciada na Carta aos Brasileiros, de 2002, e concretizada pela continuidade, em upgrade, do neoliberalismo tucano, pelas mãos do “companheiro” Meirelles em parceria com o sabujo Palocci.
Que atentem, repito, os que preferem a margem de conforto do embate adiado. Não nos venham de borzeguins ao leito, porque nesse contexto, a afirmação de uma candidatura claramente antirregime, sem vergonha de denunciar as mazelas do capitalismo e contra elas lutar desde já, é absolutamente necessária.
Daí a correção incontestável da oportuna iniciativa dos que se uniram em torno do Manifesto pela pré-candidatura de Glauber Braga apresentado ao PSOL, com vistas a decisão a ser tomada no Congresso próximo, em outubro.
É com ele que eu vou, já agora, nas manifestações marcadas para o dia 29, o Dia Nacional de Lutas. E depois…”.
O camarada Milton Temer deixa aí marcada uma posição partidária, como militante do PSOL que é, mas o que eu quero destacar no texto é isso que ele chama de “farsa” de 2002. Infelizmente Lula caminha para fazer uma gestão que não enfrentará, mais uma vez, as mazelas impostas pelo ultraliberalismo no nosso país. O que nós queremos saber é quando Lula deixará de se reunir com os políticos da direita para encontrar os representantes da classe trabalhadora, das periferias, os desempregados, os precarizados. É esse tipo de aliança que todos nós queremos que o Lula faça.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: