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Editorial – 24.07.2020

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Ainda que o nosso cenário político seja grave, ainda que tenhamos uma pandemia para superar, que já levou à morte mais de 83 mil pessoas no país, hoje eu abro espaço no nosso editorial para homenagear uma grande figura. O Brasil perdeu ontem o cantor, compositor, escritor e cineasta Sérgio Ricardo. Aos 88 anos, ele estava internado em um hospital na zona Sul do Rio desde abril, quando contraiu a Covid-19. Apesar de ter se curado do novo coronavírus, ele teve de continuar na unidade de saúde e foi vítima de uma insuficiência cardíaca.

 

Sérgio Ricardo teve destaque nos principais movimentos culturais da história do país, a bossa nova e o cinema novo. O músico compôs a trilha sonora de dois dos maiores clássicos das telas no Brasil, os filmes “Deus e o Diabo na terra do sol” e “Terra em transe”. Ele também dirigiu e atuou em filmes como “Êsse mundo é meu (1964)”, “Juliana do amor perdido” (1970) e “A noite do espantalho” (1974).

 

Em 1968, Sérgio Ricardo escreveu o roteiro musical para mais um clássico, a peça de Ariano Suassuna “O auto da compadecida”. Publicou, em 1991, o livro “Quem quebrou meu violão?”, pela editora Record, um ensaio sobre a cultura brasileira desde os anos 1940. No campo da poesia, sua última obra foi “Canção calada”, publicada no ano passado.

 

A música, no entanto, talvez seja onde Sérgio Ricardo mais teve destaque. Apesar de ter ficado marcado após quebrar um violão e tê-lo atirado à plateia ao ser vaiado durante o Terceiro Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, em 1967, o cantor e compositor participou do histórico Festival da Bossa Nova, no Carnegie Hall de Nova York, ao lado de figuras como Carlos Lyra, Tom Jobim, Roberto Menescal, João Gilberto e Sergio Mendes.

 

Mas, acima de todo destaque que teve nas artes, o maior talento de Sérgio Ricardo era a militância pela igualdade. Com olhar voltado a todo momento para o outro, ele chegou a dizer o seguinte, em uma entrevista para o jornalista Renato Terra: “O meu negócio é o meu ser com o meu semelhante. Não é uma oportunidade que eu esteja querendo desfrutar. Isso aí é uma coisa minha, amanhã quando eu subir no paraíso, eu vou ficar falando daquele mendigo pobre coitado, ninguém deu bola pra ele, coisas assim”.

 

Nos versos da canção “Enquanto ela não vem”, o compositor mostrou o Brasil que muita gente faz questão de não ver: “Tristeza mora na favela/ Às vezes ela sai por aí/ Felicidade então/ Que era saudade sorri/ Brinca um pouquinho/ Enquanto a tristeza não vem”. Sérgio Ricardo vai, mas sua obra seguirá eterna.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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