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Editorial – 25.03.2020

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A irresponsabilidade do Governo Federal nas medidas sanitárias e de salvaguarda social durante o período da pandemia do novo coronavírus se estende à maior empresa estatal do país, a Petrobras. As duas principais entidades da categoria denunciam o descaso da companhia no cuidado com os trabalhadores.

 

Em carta aberta, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) relata que a direção da estatal se nega a reduzir as atividades da empresa aos serviços essenciais, como a produção de combustíveis para veículos de segurança, de transporte de alimentos, ambulâncias e o fornecimento do gás de cozinha, por exemplo. Desta forma, os profissionais que circulam sem necessidade pelas unidades se tornam potenciais vetores de transmissão da Covid-19.

 

Já a Federação Única dos Petroleiros (FUP) diz que os trabalhadores estão sendo submetidos a “jornadas de trabalho que os levarão à exaustão física e ao esgotamento emocional”, enquanto a alta cúpula da companhia está em quarentena nas suas casas. As entidades tentam negociação com a direção da Petrobras, mas não conseguem o diálogo, e já articulam a possibilidade de uma greve sanitária ser iniciada em poucos dias.

 

Além disso, os gestores da estatal descumprem os recentes acordos com o Tribunal Superior do Trabalho (TST), que encerrou a histórica paralisação de 21 dias em fevereiro, e anunciam demissões e punições aos funcionários que participaram do movimento.

 

À esteira dessa situação, está prevista a discussão em assembleia de acionistas, marcada para o próximo dia 22, sobre a possibilidade de se triplicar o teto para pagamento de bônus aos diretores da empresa, em uma clara provocação à categoria e à população brasileira, que sofre os efeitos nocivos de mais uma recessão que está desenhada.

 

O cenário de desgaste econômico se amplia quando a gestão de Jair Bolsonaro propõe, sob a égide da necessidade de ‘esforço coletivo’, o corte de salários dos servidores públicos durante o período de transmissão do novo coronavírus. Além de retirar dinheiro de circulação em um momento de emergência sanitária, a medida limita a capacidade de consumo da população, o que vai provocar ainda mais demissões na iniciativa privada.

 

Aliás, o presidente da República não cansa de dar mostras de sua incapacidade. Em um novo show de horrores em rede nacional, Bolsonaro chamou mais uma vez a Covid-19 de ‘gripezinha’, culpou os meios de comunicação por espalharem ‘pavor’, contrariando a ordem do próprio Ministério da Saúde de que as pessoas mantenham o isolamento social, acusou estados e municípios de adotarem o conceito de ‘terra arrasada’, destacou a necessidade de se ‘voltar à normalidade’ para se manter os empregos e criticou até o fechamento das escolas.

 

As reações às declarações de Bolsonaro foram imediatas, não apenas pelos panelaços que foram ouvidos pelo oitavo dia consecutivo por todo o país. Políticos de diversas matizes ideológicas, entidades da sociedade civil, sindicatos e até, vejam só, as Forças Armadas contestaram e criticaram com veemência a postura do presidente. O comandante do Exército, general Edson Pujol, gravou um vídeo em nome da instituição afirmando que a crise causada pelo vírus “talvez seja a missão mais importante” de sua geração.

 

Bolsonaro parece viver em uma realidade paralela. Enquanto o mundo concentra esforços em impedir uma tragédia humanitária, oferecendo recursos dos Estados nacionais para garantir a sobrevivência dos mais vulneráveis, o ex-capitão do Exército segue priorizando os lucros de banqueiros e grandes empresários e relativiza a pandemia.

 

No Brasil de Bolsonaro, os mais pobres escolhem: ou morrem pelo coronavírus ou morrem de fome.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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