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Meu comentário de hoje estará centrado nessas duas manchetes que demos aqui no programa. A primeira delas diz respeito aos efeitos da crise econômica e a segunda, aos conflitos na Câmara dos Deputados a partir de uma denúncia que foi feita pelo jornal Folha de S. Paulo. Ontem os deputados da base e da oposição, de acordo inclusive com a própria matéria do jornal paulista, trocaram empurrões e gritos no Plenário da Câmara por causa dessa reportagem que mostrou que o governo ofereceu R$ 40 milhões em emendas para cada deputado que votar a favor da dita reforma da Previdência, um ataque à Previdência Social pública brasileira.
O deputado Aliel Machado (PSB-PR) discursava quando foi interrompido aos gritos pelo colega José Medeiros (PODE-MT): “O governo ofertou R$ 40 milhões para comprar votos, está oferecendo cargos”, afirmou o parlamentar do PSB, da oposição. “Vagabundo, não nos meça pela sua régua”, gritou o deputado do Podemos.
Uma confusão se instalou no plenário da Casa com deputados da oposição tentando separar os dois. Deputados de seis partidos confirmaram ao jornal paulista que houve a oferta do ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni para liberação de recursos extra-orçamentários, ou seja, não referentes a emendas impositivas, mas não foi celebrado acordo. No domingo, a distribuição de espaços na máquina federal entre potenciais aliados por Bolsonaro e seus auxiliares já havia sido noticiado pela Folha de S. Paulo. A oferta de Lorenzoni é referente à deliberação da PEC, Proposta de Emenda Constitucional, no Plenário e não na Comissão de Constituição e Justiça, onde a tramitação foi concluída ontem.
Pouco depois, o deputado do PSOL Glauber Braga questionou o presidente da Câmara Rodrigo Maia sobre a oferta, mas Maia não comentou, diz aqui a matéria do jornal. A proposta foi feita inclusive na residência oficial de Rodrigo Maia, na semana passada, e tudo isso porque, na ótica do governo, que é a ótica dos bancos, multinacionais e principalmente da mídia dominante, a aprovação da contrarreforma da Previdência, um verdadeiro tiro de misericórdia em todos os princípios da Constituição de 1988 e das questões referentes à seguridade social do Brasil, é feita em nome da chamada recuperação econômica.
O país mergulhou em uma recessão por conta inclusive da entrega do Ministério da Fazenda do governo de Dilma Rousseff a um representante direto no caso do banco Bradesco, o senhor Joaquim Levy. Joaquim Levy assumiu o comando da economia no governo Dilma e promoveu a maior recessão da nossa história, mergulhou o país no desemprego, na estagnação e, principalmente, na aflição para milhões de famílias de que se viram privadas de condições mínimas de sobrevivência.
A consequência disso está aí a olhos vistos. Tivemos uma queda do produto muito violenta, por volta de 8% do PIB em termos acumulados nos anos de 2015 e 2016, e de lá para cá estamos padecendo de uma brutal estagnação econômica, a maior da nossa história. Ontem foram divulgados dados a respeito do emprego formal e me baseio na notícia do jornal Valor Econômico que diz: Contrariando as expectativas, mercado de trabalho formal fechou 43,2 mil vagas em março após surpreendente abertura de 173 mil postos em fevereiro. A mudança de data do carnaval foi determinante para inversão de tendência, mas economistas avaliam que a piora das perspectivas para atividade no ano também pesou sobre as contratações.
Com o resultado abaixo do esperado no trimestre, os analistas já reduzem projeções para o saldo do emprego formal no ano. Foi o pior março desde 2017, quando houve a destruição de 63,6 mil vagas no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Por outro lado, o jornal Folha de S. Paulo aponta na sua manchete principal da edição de hoje que a recuperação da renda brasileira por habitante vive seu pior momento da história e o processo ainda corre risco de se prolongar.
O padrão de vida medido pela renda per capita que divide o PIB pelo número de habitantes estagnou ao redor de R$ 32 mil por ano. O valor está 9% mais baixo quando comparado ao pico anterior, alcançado no primeiro trimestre de 2014, portanto há 19 trimestres atrás. Isso tudo mostra os equívocos do modelo econômico que temos em curso, baseado justamente nos interesses imediatos de banco e multinacionais e é por isso que a mídia dominante repercute diariamente as necessidades das mudanças nas regras previdenciárias.
Na verdade, o que eles querem é destruir o capítulo da seguridade social constante na nossa Constituição, promulgada em 1988. O que querem é cada vez mais uma maior liberdade para administrar o orçamento ao seu bel prazer, principalmente investindo dinheiro, se é que podemos falar em investimento, na chamada indústria da dívida pública, ou seja, é o sistema da dívida administrando os interesses do governo e do país, especialmente transferindo recursos importantes que deveriam estar investidos na geração de emprego, na efetivação de obras de recuperação, por exemplo, da nossa infraestrutura, mas que são canalizados para o pagamento de juros.
Tudo isso em um quadro onde os capitalistas preferem investir na especulação do que propriamente na produção ou no consumo, essa é a questão central que precisa ser enfrentada. Nós temos um modelo econômico que nos subordina cada vez mais aos ditames do capital internacional, principalmente através dos interesses das multinacionais instaladas aqui no Brasil. Precisaríamos de um modelo econômico que viesse a enfrentar esse nosso maior problema, que é a vulnerabilidade, a dependência da economia brasileira a agentes externos.
Nós dependemos das multinacionais, dependemos hoje de capitais internacionais e precisamos virar esse jogo. O Brasil tem todas as condições para isso, mas, para tanto, politicamente é necessário derrotar os interesses de banco e multinacionais, os principais agentes econômicos que dirigem esse processo atual da economia brasileira e fazem com que as suas posições repercutam dia a dia na mídia dominante, fazendo a cabeça dos brasileiros em torno de questões absolutamente ilusórias como, por exemplo, atacar a Previdência Social pública para poder recuperar a economia do Brasil.
Muito pelo contrário, nós cada vez iremos aprofundar o nosso abismo se não viermos a inverter essa marcha de insensatez que vem marcando a condução da economia brasileira, mas que tem uma racionalidade, a racionalidade de fortalecer cada vez mais aos setores que, representados pelo sistema financeiro e pelas multinacionais, comandam o nosso país. É esse processo que deve ser interrompido caso nós queiramos de fato um país soberano e com condições de conduzir o nosso próprio desenvolvimento de acordo com as nossas necessidades.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: