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A respeito da prisão dos quatro supostos responsáveis por terem invadido o celular do ex-juiz Sergio Moro e roubado informações dos aplicativos de mensagens que acabaram vazando para o site The Intercept Brasil, o jornalista Reinaldo Azevedo publicou na sua coluna no site UOL um texto bastante interessante que eu gostaria de compartilhar aqui com vocês ouvintes. O título da coluna é “Ligar supostos hackers presos à Vaza Jato contraria até o que disse Moro”:
“A Polícia Federal prendeu nesta terça quatro pessoas acusadas de hackear os respectivos telefones de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e outras autoridades. Em São Paulo, foram presos Gustavo Santos e sua mulher, Suellen Priscila de Oliveira; em Araraquara, Walter Delgatti Neto, que já responde a processos por estelionato. A quarta detenção foi feita em Ribeirão Preto. Todos foram alvos da Operação Spoofing, que incluiu ainda sete mandados de busca e apreensão. Todos já foram transferidos para Brasília.
Setores da imprensa andam forçando a mão, associando a ação desses supostos hackers aos diálogos que têm vindo a público entre o então juiz Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, e deste com seus pares no Ministério Público. Será mesmo? A equação não fecha. E cumpre que todos fiquemos atentos porque há muita gente empenhada em arranjar culpados a todo custo.
Ariovaldo Moreira, advogado do casal preso em São Paulo, pediu à PF o adiamento do depoimento da dupla até que ele chegue a Brasília. Em entrevista ao Estadão, acusou a polícia de estar criando dificuldades para o exercício da defesa.
Vamos ver. No dia 4 de junho, Moro afirmou que seu celular havia sido hackeado, mas sustentou que nenhum dado havia sido capturado pelos invasores. Cinco dias depois, o site “The Intercept Brasil” divulgou o primeiro lote de diálogos entre Moro e Dallagnol e deste com colegas da Lava Jato. O acervo, segundo o site, é gigantesco e reúne “chats, fotos, áudios e documentos de procuradores da Lava Jato compartilhados em vários grupos e chats privados do aplicativo Telegram”.
Moro e Dallagnol não reconhecem a autenticidade das conversas, mas também não negam seu conteúdo. Pessoas citadas nos diálogos ou que tiveram mensagens suas reproduzidas pelas personagens acabaram comprovando a veracidade do material, ainda que não fosse essa a intenção. Foi o que fez, por exemplo, o ministro Roberto Barroso, do STF, nesta terça. Revelei na semana passada que ele promoveu, em agosto de 2016, um coquetel em sua casa a que estiveram presentes Dallagnol e Moro. O ministro confirmou que o evento, de fato, existiu.
As pessoas são livres para acreditar no que lhes der na telha, não é mesmo? Será razoável imaginar que, em cinco dias, um hacker teria capturado dados das conversas entre Moro e Dallagnol e entre esse e seus pares que remontam a 2015, passado tudo ao “The Intercept Brasil”, e o site, no período, teria tido tempo de sistematizar ao menos parte das milhares de informações para, então, publicar a primeira reportagem?
Não sei obviamente quem passou os dados ao “The Intercept Brasil”. Também o site diz ignorar a fonte. Já apareceu até um tal “Pavão Misterioso” forjando provas de uma grande conspiração que, ora vejam!, passaria até pela Rússia. Pois é…
Vai ver a conspiração russa resolveu pagar em rublos hackers que atuariam, então, em Araraquara e Ribeirão Preto. Agora Paulo Guedes, ministro da Economia, e a deputada Joice Hasselmann também dizem ter sido hackeados. Bem, isso seria uma espécie de desmoralização desse que deve ser um trabalho difícil… Pensem bem: invadir os telefones de Guedes e Joice para quê? O poeta Ascenso Ferreira responderia: “Para nada!”
As coisas têm lá a sua graça involuntária. Ao mesmo tempo em que os fanáticos de Moro e Bolsonaro vibraram com a prisão desses supostos hackers na esperança de que tenham sido eles a capturar as mensagens reveladas pela Vaza Jato, há a tese de que as conversas incômodas, algumas caracterizando flagrantes ilegalidades, nunca aconteceram. Bem, se é assim, então os hackers teriam hackeado o quê?
Reitero: é bom que fiquemos atentos porque há um monte de feiticeiros por aí dispostos a inventar qualquer coisa para ver se tiram a Lava Jato das cordas. E uma das intenções, é indisfarçável, consiste em inventar uma grande tramoia criminosa que teria o objetivo de destruir a Lava Jato, assegurando, assim, a impunidade de políticos. É conversa mole de quem está disposto a jogar no lixo o devido processo legal sob o pretexto de fazer justiça.
Que se investigue o que tiver de ser investigado. E, por óbvio, nos limites da lei.
Ah, sim: que agilidade teve a PF no caso, hein? Já imaginaram se fosse sempre assim quando há um vazamento criminoso promovido por agente público no caso da Lava Jato? É bem verdade ser essa uma conjectura impossível. Afinal de contas, tais ilegalidades nunca foram investigadas”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: