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Editorial – 25.08.2020

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O ataque do presidente Jair Bolsonaro a um repórter do jornal O Globo no último domingo, como era de se esperar, repercutiu muito, não só no Brasil, como na imprensa internacional. Por aqui, uma série de entidades publicaram notas em repúdio à ameaça do presidente em agredir o jornalista que o questionou a respeito dos depósitos feitos por Fabrício Queiroz e sua esposa Márcia Aguiar na conta da primeira-dama Michelle.

 

Mas eu gostaria de repercutir aqui com vocês ainda aquele dossiê produzido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública contra servidores que se colocam como antifascistas. O jornalista, escritor e professor Felipe Pena escreveu um belíssimo texto a respeito deste episódio e eu gostaria de compartilhá-lo aqui com vocês, ouvintes. O título do artigo é “Por que me persegues, Bolsonaro?”:

 

Quem és tu na fila do pau de arara, capitão? Um Fleury com baba de poodle ou um Médici na sombra do guarda da esquina? Querias matar 30 mil e já triplicastes a meta. Querias o genocídio indígena e aproveitas a pandemia. Querias o fim da floresta amazônica e teu ministro vai passando a boiada. E agora queres o meu silêncio, minha cumplicidade, meu aceno de Jarbas Passarinho. Não, não conseguirás colocar mordaça em quem te denuncia, capitão.

 

Quem és tu para me incluir numa lista de inimigos do estado? Achas mesmo que somos apenas 500 antifascistas no serviço público? Achas que não sabemos que ser antifascista é um dever cívico diante da tua necropolítica? Achas que um relatório sigiloso, produzido nos porões do teu DOPS particular, servirá para nos intimidar?

 

Se queres me torturar, mostra a tua cara nesta gaiola das loucas. Não te escondas por trás do ministro que abana o rabo. Não te acovardes na saia do diversionismo. Não afunde o nariz na lama dos perdigotos que te bajulam. Venha aqui e me encare, capitão! Ou és tu a real fraquejada de que tanto te envergonhas?

 

O artigo 4.42 da nota técnica 1556/2020 da CGU, publicada em 29 de julho, diz que “a divulgação em mídia social de manifestação de indignação com superiores é exemplo de conduta que não se identifica com a consecução dos deveres legais do servidor”. Pois esta carta é o registro da minha indignação. Quando baterás à minha porta, capitão? Mandarás o cabo e o soldado? Ou serei alvo das milícias de tua família? Que covardia tu escolherás?

 

A nota da CGU vem na esteira do relatório secreto do Ministério da Justiça com a lista de 500 funcionários públicos identificados como antifascistas. Censura sem disfarce, inconstitucional e imoral. Seu objetivo, claro e preciso, é continuar a intimidação dos servidores.

 

Sei que não lestes a nota, capitão. Não saberias o significado da palavra “consecução”. Tampouco conseguirias acompanhar um texto de nove páginas. Mas isto não te livra da canalhice feita em teu nome. Se estás com tanto medo de um professor, precisarás de fraldas para encarar as togas do Tribunal de Haia. Sou antifascista, capitão. Toda a constituição é antifascista. E quando pergunto por que me persegues, a resposta é coletiva. Ela está inscrita nas ideias dos outros 499 nomes que me acompanham na tua lista de inimigos.

 

Chama-se democracia”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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