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O PT renovou a sua direção nacional ontem, finalizando um longo processo de eleições que renovaram as suas direções nos planos municipal, estadual e agora nacional. Gleisi Hoffmann foi eleita presidente da sigla e Lula, em pronunciamento ao final do encontro que renovou a sua direção nacional, voltou a defender a sua inocência, conforme era de se esperar, e fez um discurso novamente muito forte, apontando a desigualdade como maior problema do país e defendendo a nossa soberania nacional.
Foi mais longe, e em relação àqueles que cobram autocrítica do partido, o PT, e dele mesmo, ele claramente disse que a autocrítica que esperam deve ser feita por aqueles que apoiaram e apoiam o ajuste neoliberal e por aqueles que defenderam os desmandos da operação Lava Jato. É aí que talvez a gente precise exigir maior clareza do ex-presidente. Não há dúvidas em respeito à sua liderança e, mais do que isso, da sua liderança na esquerda brasileira. O problema é qual é a coerência de Lula com um programa que possa, de fato, ser de esquerda, ou melhor, defender de fato a soberania do país e, especialmente, afastar completamente qualquer ilusão com as propostas dos liberais.
Digo isso pelo seguinte, é importante a força política de Lula, mas mais importante ainda é aquilo que efetivamente ele pode nos apresentar junto com seu partido, seus aliados, para a superação da crise brasileira. Se olharmos para o seu governo, que foi um governo de avanços principalmente para os pobres e miseráveis em termos materiais, vamos observar que a inclusão liberal percorreu os 13 anos dos governos do PT envolvendo não só decisões do próprio Lula, como também decisões da sua sucessora, a Dilma Rousseff.
Me parece que o PT deveria não fazer autocrítica, mas claramente assumir quais são suas responsabilidades para que nesses 13 anos, por exemplo, toda apologia em relação à austeridade fiscal fosse uma das tônicas do discurso econômico, para explicar também porque houve o privilégio, como primeira iniciativa do seu governo, uma dita reforma da Previdência atingindo o setor público, e em termos de soberania, é necessário destacar que para, de fato, termos uma política soberana, especialmente no plano externo, não basta uma diplomacia progressista.
É necessário termos uma política que de fato relance o Brasil no contexto das nações de uma outra forma e sob o ponto de vista econômico. Não adianta querermos nos colocar no cenário das nações como aqueles que dispõem de um corpo diplomático muito azeitado, muito capaz, mas que no plano concreto das nossas estruturas aprofunda nossa dependência e, principalmente, a nossa subordinação a decisões que cada vez mais são tomadas fora do país pelas multinacionais que cada vez mais controlam o nosso parque produtivo.
Sim, porque nesses 13 anos, o que tivemos, e esse é o maior problema do projeto neoliberal, aprofundamos a desnacionalização da economia brasileira e continuamos na senda perigosíssima da desindustrialização. Sem atacar essas duas questões, não teremos condição de superar a herança neoliberal que iniciou-se com Collor, se aprofundou com Fernando Henrique e infelizmente, de alguma maneira, ganhou popularidade justamente nos governos do PT, afinal de contas se alimentou a ilusão que estávamos crescendo muito, gerando muito emprego e, principalmente, atacando as desigualdades. Ora, mas os problemas da estagnação econômica, da desigualdade, estão presentes inclusive no próprio discurso correto de Lula que hoje aponta todas essas graves questões que continuam a maltratar o Brasil e o nosso povo.
Por isso, muito mais que discursos, o que precisamos nesse momento são compromissos claros com a revogação de toda a nova situação institucional e constitucional que vem sendo gerada no país, principalmente desde o governo Fernando Henrique Cardoso. Precisamos rever as privatizações, enterrar a política macroeconômica dos bancos e das multinacionais e precisamos recuperar, de fato, a nossa soberania nacional defendendo as nossas fronteiras, não somente territoriais, mas nossas fronteiras financeiras. Essas foram três questões que os governos do PT deixaram de lado.
Talvez agora seja a oportunidade, quando se abre, inclusive, essa campanha pela efetiva libertação de Lula, que o próprio Lula e o PT incorporem o melhor da sua tradição programática, onde várias dessas questões eram efetivamente contempladas. Mas esse programa histórico do PT foi deixado de lado em prol justamente das contingências de governabilidade, de acordo com as concepções de Lula e seus aliados. Deu no que deu. É necessário hoje se pensar muito bem quais foram esses passos para que novos erros não sejam cometidos.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: