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Esse caráter golpista da gestão Bolsonaro, que ameaça desde o início do mandato uma nova aventura autoritária no nosso país, ganha contornos ainda mais perigosos nesse ano eleitoral, especialmente depois desses últimos movimentos do presidente da República, atuando para livrar um de seus aliados da prisão imposta pelo Supremo Tribunal Federal, caso do deputado Daniel Silveira, bem como nesse novo entrevero da Corte com os militares.
É disso que trata o professor da Universidade Federal do ABC Gilberto Maringoni em seu artigo mais recente escrito para a Revista Fórum e publicado ontem (25), sob o título “Bolsonaro pode até tentar um golpe. Mas sua sustentação é improvável”. Eu farei a leitura do texto aqui para vocês. O Maringoni diz o seguinte:
“Em 1964, as Forças Armadas ainda exibiam prestígio pela atuação da FEB na Itália e por não terem sido protagonistas centrais da ditadura do Estado novo. Invadiram a vida política do país por várias vezes desde o início da República, mas nunca haviam institucionalmente dirigido um governo. Por esses e outros motivos, reuniram condições políticas para amalgamarem um conjunto de forças reacionárias e associarem-se a Washington para cometer um golpe de Estado. Entre essas forças estavam várias frações do grande capital – industrial, financeiro e agrário – a Igreja Católica, a mídia corporativa e setores das camadas médias.
A tarefa seguinte – colocar em pé um regime ditatorial – só foi possível por estabelecerem um pacto de classes com um projeto definido de país. Contavam com o ambiente da Guerra Fria em seu favor. Esse projeto de desenvolvimento envolvia completar a industrialização, atraindo investimento externo, arrochando salários e reprimindo opositores.
Não existe um projeto de desenvolvimento definido entre os militares atuais, mas diretrizes gerais para atrair capital especulativo, seguir reduzindo a massa salarial, entregar de vez setores estratégicos da economia, como energia e saneamento, privatizar o que resta de patrimônio nacional e arrebentar os serviços públicos. Ou seja, um varejo do neoliberalismo velho de guerra.
À diferença da ditadura militar, a meta atual não é desenvolver o país, mas garantir que o butim seja repartido entre diversas máfias, desestruturando o Estado e impondo um profundo e permanente desarranjo institucional, num projeto que, com alguma licença poética, poderia ser denominado de neocolonial. Não está claro que haja unidade entre todas as frações do grande capital e apoio internacional consistente para sustentá-lo. O mais provável é que uma tentativa golpista isole mais o país na cena global.
Há mais incertezas do que certezas no sucesso de uma aventura desse tipo. Há que se levar em conta a desmoralização acentuada das FFAA nos dias que correm, apesar de ser incerta a possibilidade de haver significativa resistência popular.
Em suma, é provável que os fardados brasileiros cogitem entrar numa aventura golpista com Bolsonaro. Mas, se ainda restar um mínimo de competência militar em suas hostes, seria de bom alvitre avaliarem o enorme risco da empreitada. Caso tenham êxito, é difícil que montem um regime estável. Devem levar em conta que a alta de Lula nas pesquisas não representa apenas o prestígio de um líder carismático, mas um profundo descontentamento de massas com o atual governo.
Embora a oposição precise trabalhar com todos os cenários – inclusive os piores – não vale a pena difundir a ideia de que um golpe nas eleições é inevitável. Bolsonaro e os hidrófobos fardados não estão em condições de fazerem tudo o que planejam. Lembremos que o 7 de setembro foi planejado como a data para uma virada de mesa e tudo terminou num fiasco, sem apoio consistente do topo da pirâmide social. Eles podem muita coisa, inclusive se darem muito mal numa quartelada que não pare em pé”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: