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O rei está nu. Todas as suspeitas que já levantávamos desde a campanha eleitoral, quando o então candidato Jair Bolsonaro se apresentava como alternativa para a velha política, demonstraram-se reais com os fatos que se sucederam na última sexta-feira.
A crise que se abre após as gravíssimas denúncias do ex-ministro da Justiça e Segurança pública Sergio Moro fere de morte o governo e faz com que a permanência de Bolsonaro no Palácio do Planalto dependa de um amplo e improvável acordo com parlamentares para evitar a abertura de um processo de impeachment. O baixo clero, ao qual o presidente tenta se aliar no Congresso, talvez não tenha força suficiente para este tipo de movimentação.
Rodrigo Maia e David Alcolumbre, presidentes das Casas Legislativas, assumiram um silêncio obsequioso e ensurdecedor aguardando os desdobramentos do caso após as declarações de Moro, que já apresentou provas das acusações. Além disso, o procurador-geral da República Augusto Aras pediu a abertura de um inquérito ao Supremo Tribunal Federal para averiguar as falas do ex-ministro, investigação essa que ficará a cargo de Celso de Melo.
Bolsonaro cometeu os crimes de falsidade ideológica, ao colocar no Diário Oficial a assinatura do ex-ministro sem sua anuência na exoneração do diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo, tanto que ainda tentou voltar atrás e republicou a demissão sem o nome de Moro, além de crime de responsabilidade por tentar interferir na independência da Polícia Federal ao pedir acesso a documentos sigilosos, como ele próprio confessou, e trocar o chefe da corporação com interesses políticos e pessoais, visando frear investigações contra seus filhos e empresários que financiaram sua campanha.
O favorito a ser nomeado para a vaga de Valeixo é o delegado Alexandre Ramagem, atual diretor da Agência Brasileira de Informação, a Abin, e ex-chefe de segurança de Bolsonaro na campanha eleitoral e amigo dos filhos do presidente. A oposição já prepara uma ação na Justiça para impedir que ele assuma o cargo, alegando evidente conflito de interesses.
Da carta branca ao bilhete azul. Quando nomeou Sergio Moro para um cargo em sua gestão com total liberdade de ação, Bolsonaro sabia que havia ativado uma bomba-relógio, visto que o ex-juiz contava com simpatia de boa parte da classe média que apoia a operação Lava Jato. A saída do dito arauto da legalidade, que mais uma vez expôs sua verdadeira face ao evidenciar uma série de crimes que cometeu quando não denunciou a tentativa de interferência do presidente na Polícia Federal e o acesso dele a documentos sigilosos de investigações deste que é um órgão de Estado, detonou a maior crise de seu governo.
Após as saídas em pouco mais de uma semana dos dois ministros mais populares de sua administração, Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro, Bolsonaro, que já contava com uma parcela diminuta dos antipetistas em sua base de apoio, perde agora a fatia dos admiradores da operação Lava Jato, simbolizada pelo ex-juiz. O movimento do ex-capitão do Exército que provocou o pedido de demissão de Moro já é avaliado como o mais desastroso de um presidente na história. Resta agora aguardar qual será a reação de uma peça-chave no tabuleiro da República, o vice-presidente general Hamilton Mourão, a alternativa legal e igualmente desastrosa para assumir o governo.
Caso a tal da mosca azul do poder atinja o militar, as negociações com a cúpula do Legislativo e do Judiciário não tardarão a acontecer e o afastamento de Bolsonaro passará a ser uma questão de tempo. A grande questão que se coloca é que o país não pode aguentar mais um minuto sequer com este irresponsável e criminoso como chefe da República. Mais do que nunca o ‘fora, Bolsonaro’ passa a ser pauta obrigatória para quem tem o mínimo de compromisso com o Brasil.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: