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Editorial – 27.10.2021

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Uma das importantes páginas da nossa história foi concluída na última terça-feira (26), no Senado Federal, quando a CPI da Pandemia votou o relatório final elaborado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Os parlamentares aprovaram o texto de mais de 1180 páginas por 7 votos a 4. A partir de agora, o documento será encaminhado aos órgãos que devem analisar a aceitação dos indiciamentos propostos, entre eles o Ministério Público e a Câmara dos Deputados.

 

Na reta final dos trabalhos ontem, após seis meses de discussões, o relator da comissão ainda incluiu o nome de mais algumas figuras no relatório final pelo suposto cometimento de crimes durante o enfrentamento à Covid-19 no país, entre eles o governador do Amazonas Wilson Lima. O senador Luís Carlos Heinze (PP-RS) também havia sido imputado de última hora, mas o Renan Calheiros acabou atendendo a apelos de seus colegas de casa e desistiu da citação.

 

Com isso, subiu para 80 o número de pedidos de indiciamentos, sendo 78 agentes públicos ou privados e duas empresas. A partir de agora, a CPI se torna um Observatório Parlamentar Permanente, como disse aqui para o programa na última terça-feira o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), para acompanhar os desdobramentos e as possíveis consequências do relatório final e cobrar aos órgãos competentes respostas sobre as investigações que partiram da comissão.

 

Seguiremos aqui no programa atentos especialmente às atitudes tanto do procurador-geral da República Augusto Aras, como do presidente da Câmara Arthur Lira no encaminhamento às ações propostas contra o presidente Jair Bolsonaro, que foi imputado por nove crimes na comissão de inquérito do Senado. Como disse aqui o Randolfe, ainda que o impeachment do ex-capitão seja pouco provável de acontecer, a história vai apontar quem ficará de que lado: o dos que tiveram o mínimo de dignidade na defesa dos brasileiros ou o dos omissos e corresponsáveis por esse genocídio que já ceifou mais de 600 mil vidas nessa pandemia.

 

Eu também queria fazer menção no editorial de hoje a mais um brilhante texto escrito pela jornalista Cristina Serra e publicado ontem na sua coluna no jornal Folha de S. Paulo, onde ela aborda esse indecente áudio que vazou do banqueiro André Esteves, e que tem o título “Um banqueiro e dois golpes”. Diz a Cristina:

 

O banqueiro faz questão de exibir sua influência junto às mais altas instâncias do poder político, com uma mistura de cinismo e boçalidade envernizada, própria de quem se acha educado só porque sabe usar os talheres. Esteves jacta-se de seu prestígio junto ao presidente da Câmara, Arthur Lira. Gaba-se do acesso ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a ponto de este tê-lo consultado sobre o nível da taxa de juros, atitude que é um escândalo de relações carnais entre o público e o privado.

 

Vangloria-se de ter influenciado a decisão do STF favorável à independência do Banco Central, informando ter conversado com alguns ministros antes do julgamento. Só não revelou quais. E expõe o motivo de tanto empenho. Se Lula for eleito, “vamos ter dois anos de Roberto Campos”. Esteves considera que Bolsonaro, se “ficar calado” e trouxer “tranquilidade institucional para o establishment empresarial”, será o “favorito” em 2022.

 

Em tortuosa análise sobre o Brasil, Esteves compara o impeachment de Dilma Rousseff ao golpe de 1964: “Dia 31 de março de 64 não teve nenhum tiro, ninguém foi preso, as crianças foram pra escola, o mercado funcionou. Foi [como] o impeachment da Dilma, com simbolismos, linguagens, personagens da época, mas a melhor analogia é o impeachment da Dilma”.

 

A comparação é um insulto aos milhares de presos, perseguidos, torturados e assassinados na ditadura, mas o raciocínio de Esteves faz sentido ao aproximar (talvez sem querer) as duas datas infames: 1964 e 2016 foram golpes. A conversa desinibida do banqueiro desnuda, de maneira explícita, um país refém de meia dúzia de espertalhões do mercado financeiro”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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