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Três anos após a tragédia de Mariana, temos novamente em curso algo inacreditável. A empresa Vale foi responsável por esse acidente agora em Brumadinho. O número de vítimas é incalculável, somente corpos recuperados já chegam a 58, o número de desaparecidos até o momento é de formalmente 305 pessoas, mas tenderá a aumentar. Muita gente está ainda se comunicando com os órgãos que estão fazendo o trabalho de recuperação e de tentativa de encontrar pessoas, e isso pode, portanto, elevar e muito o número de pessoas desaparecidas.
Mas principalmente o que fica claríssimo é essa ação absolutamente criminosa da Vale em relação especialmente aos poderes públicos, particularmente junto ao Governo Federal e ao governo de Minas Gerais. Todos os desdobramentos da tragédia de Mariana mostram muito bem a leniência do governo do estado de Minas Gerais e do Governo Federal, incluindo o Ministério Público, em relação a esses crimes que vêm sendo praticados, crimes que se confundem com a própria atividade minerária. É lamentável.
O Brasil é sim hoje um país dependente da exportação de minérios, de produtos agrícolas, isso em si já é uma tremenda deformação, um país rico como o Brasil não necessitaria exportar produtos primários, é disso que se trata, para poder bancar o seu dito processo de desenvolvimento. Aliás, desenvolvimento para poucos, para aqueles que têm poder econômico e continuam a usar e abusar desse poder econômico para manter o modelo que temos e que beneficia segmentos muito restritos da sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que deixa a própria sociedade como um todo exposta a verdadeiras tragédias como essa que novamente ocorre em Minas Gerais.
Mas o que devemos aqui recuperar são todas as tentativas que foram feitas pela sociedade no sentido de cobrar responsabilidade da empresa Vale e que encontraram curiosamente na esfera Federal e na esfera estadual de Minas Gerais, particularmente, obstáculos muito fortes para que a justiça seja feita. Agora mesmo, aqueles que foram vítimas da tragédia em Mariana reivindicam claramente mudanças no tratamento que a Vale vem dando a eles, inclusive no sentido de não se respeitar os termos das indenizações que foram acertadas na Justiça com as vítimas dessa ação criminosa da Vale.
Essa mesma Vale que foi privatizada de forma também criminosa, e onde seu controle em termos administrativo e gerencial foi repassado pela União para interesses privados, principalmente do banco Bradesco, e isso em um quadro onde a privatização manteve a maior parte das ações sob controle de capitais estatais e para-estatais, isso me refiro especialmente aos fundos de pensão das estatais, principalmente da Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, que junto com o BNDESPar continuam a ser curiosamente os acionistas principais da empresa, mas, por um acordo entre sócios, é a iniciativa privada que toca o negócio, e como toca.
Toca inclusive corrompendo claramente as autoridades que deveriam zelar pelo interesse público. É nesse sentido que chamamos atenção não somente para essa ação criminosa continuada da Vale, especialmente a leniência dos poderes públicos, mas chamamos atenção também às medidas que tentam ser efetivadas a partir do governo Bolsonaro e foram anunciadas na semana passada. A primeira delas diz respeito a essa extensão da prerrogativa da classificação de documentos secretos e ultrassecretos para servidores públicos ocupando cargos de confiança do segundo e terceiro escalões.
Antigamente essa prerrogativa de classificação de documentos secretos e ultrassecretos era apenas atinente a ministros de Estado, o próprio presidente da República e agora ela está extensa a presidentes de fundações, autarquias, bem como aos secretários executivos. É uma flexibilização que facilitará muito obstaculização da chamada prestação de serviços e informações por parte das autoridades e prejudica e muito a própria efetividade da lei de transparência.
Outra questão diz respeito a uma consulta pública colocada pelo Banco Central para flexibilização das informações dos bancos ao Conselho de Administração Financeira, o Coaf, e isso mostra muito bem como existe uma distância gigantesca entre o discurso e as intenções daqueles que proferem esses discursos. E é nesse sentido que quero juntar aqui as duas questões.
Temos assistido os governantes e a própria Vale fazerem propaganda tanto da transparência de suas ações, como principalmente do zelo com o meio ambiente e com as pessoas, mas o que estamos assistindo são crimes continuados principalmente por parte da Vale do Rio Doce, essa mesma Vale do Rio Doce privatizada de forma absolutamente irregular e que até hoje tem na justiça brasileira ações que questionam essa privatização, ações que até hoje não tiveram sua finalização e que mostram muito bem como anda a Justiça do nosso país.
Por tudo isso, lamentamos e principalmente por conta daqueles que se vitimaram nesse terrível acontecimento da última sexta-feira e os familiares, aqueles que estão sofrendo nesse momento sem nenhum tipo de perspectiva de solução. Na verdade é o nosso país que está afundando, não é somente a lama naquele vale da morte que nos entristece, o que nos entristece hoje são os rumos do nosso país absolutamente dominado pelo poder econômico que tem como símbolo as ações dessa empresa Vale, principalmente em Minas Gerais, mas também no Pará, e onde temos registrado um aumento brutal da desilusão e de todas as expectativas que podemos ter em reverter este quadro.
Precisamos mudar o Brasil, precisamos enfrentar o poder econômico, mas evidente, para isso, precisamos ter condições, ânimo e a determinação em compreender que é o poder econômico sem nenhum tipo de controle, sem nenhum tipo de sanção mais forte em relação aos seus verdadeiros crimes que continua a pontificar nesse país, que tem tudo para dar certo, mas continua em um caminho absolutamente torto, mergulhado na lama da vergonha e da falta de pudor daqueles que comandam na prática o poder econômico e o poder político desse triste Brasil.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: