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A escalada retórica do presidente Jair Bolsonaro não é surpresa para ninguém, é muito mais do que isso. O político, incapaz de se relacionar institucionalmente, não por acaso ele tenta criar o seu próprio partido, utiliza-se desse tipo de discurso como estratégia para se manter no foco do debate, ainda que com posturas ameaçadoras à ordem democrática.
Conhecedor das limitações e da passividade dos demais Poderes da República, o ex-capitão do Exército polariza porque dorme e acorda com a certeza da impunidade. Ontem, por exemplo, Bolsonaro, no português claro, esculhambou o Supremo Tribunal Federal, em especial o ministro Alexandre de Moraes, após a operação de busca e apreensão autorizada pelo magistrado contra aliados do mandatário no inquérito que investiga a produção e disseminação de fake news no país.
Ele disse, no já tradicional cercadinho na saída do Palácio da Alvorada para seus apoiadores, em tom agressivo, que “ordens absurdas não se cumpre”, em referência à decisão monocrática do ministro da Suprema Corte. Em determinado momento, e eu peço até desculpas aos nossos ouvintes pelo vocabulário inapropriado, mas é importante repetir sem cortes o que esse projeto de ditador que se diz presidente afirmou, Bolsonaro esbravejou: “Acabou, porra! Acabou! Não dá para admitir mais atitudes de certas pessoas individuais, tomando de forma quase que pessoal certas ações”.
Dando sequência à fala intimidatória, o político garantiu que “ontem foi o último dia, nós temos que botar um limite nessas questões”, para aplausos efusivos de sua horda. Seu filho, deputado Eduardo Bolsonaro, foi ainda mais longe na coação, ressaltando a necessidade de uma medida enérgica contra o Supremo e sustentando que a chegada de um momento de ruptura não é mais questão de “se”, mas, sim, de “quando”.
O bolsonarismo dialoga intimamente com o caos e a tirania por dois motivos, em especial: o primeiro é porque ele não tem nada mais a oferecer ao país. Prova disso são os 28 anos em que o atual presidente esteve na Câmara dos Deputados, onde só conquistou os holofotes quando ameaçou adversários e exaltou a ditadura.
O outro motivo é porque Jair Bolsonaro sabe que política é protagonismo, ainda que ele seja, neste caso, o anti-herói. Com seus discursos insanos, o presidente consegue sustentar 33% de aprovação popular, conforme demonstrou pesquisa do Datafolha divulgada ontem. E Bolsonaro tem consciência de que esse percentual de apoio é suficiente para construir a ponte que poderá levar à renovação de seu mandato, em 2022. Ao menos o segundo turno é garantido.
A tática do “falem mal, mas falem de mim” faz do ex-capitão do Exército o principal líder do país. Ou há alguma outra figura que tenha tanto destaque no cenário como ele atualmente? A estratégia da antipolítica nunca serviu tão bem a um personagem incapaz e irresponsável.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: