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Editorial – 29.09.2020

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A inscrição de candidatos para as eleições deste ano se encerrou no último sábado e a campanha já foi iniciada no dia seguinte. Antes mesmo de acontecer, o pleito deste ano já pode ser considerado histórico: pela primeira vez, o número de candidatos que se autodeclaram negros é maior que aqueles que se dizem brancos.

 

De acordo com dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral e compilados pelo site G1, aproximadamente 215 mil candidatos são pardos e cerca de 57 mil são pretos, o que configura, conforme a classificação utilizada pelo IBGE, 272 mil pessoas negras concorrendo a cargos eletivos nos 5 570 municípios do país.

 

Esse número representa 49,9% do total de postulantes nessas eleições, enquanto os que se autodeclaram brancos representam 47,8%, aproximadamente 260,6 mil pessoas. Ainda que haja uma predominância de negros nas candidaturas em 2020, esse índice ainda não traduz a representação dessas pessoas no nosso país, já que há, também de acordo com o IBGE, 56,6% de pretos e pardos no Brasil, contra 42,7% de brancos.

 

Essa disparidade se amplia quando são analisados os candidatos para os cargos de prefeito e vice-prefeito. Os brancos são 63% dos que buscam o principal cargo no Executivo dos municípios e 59% dos candidatos a vice. Este ano, já valem as novas regras de divisão proporcional de recursos e propaganda eleitoral entre negros e brancos, conforme determinou o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski. O debate a respeito da representatividade racial ganhou ainda mais destaque depois da necessária comoção provocada pelos episódios de violência policial contra negros, tanto no Brasil, como nos Estados Unidos.

 

Esperamos que essa mudança de paradigma seja expressa também nas urnas, com mais pretos e pardos ocupando câmaras municipais e prefeituras. Eu gostaria rapidamente de comentar também essa decisão do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que derrubou quatro resoluções que tratavam, entre outros, da restrição ao desmatamento e a ocupação em áreas de preservação ambiental de vegetação nativa, como restingas e manguezais. A iniciativa do ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, definida em reunião do Conama na última segunda-feira, visa atender aos anseios da Confederação Nacional da Agricultura, requerente de uma dessas medidas, entre outros grupos empresariais.

 

O chamado revogaço beneficia também o setor imobiliário, já que há a liberação de áreas de preservação de restinga para a construção de hotéis à beira-mar. Enquanto o Pantanal e a Amazônia seguem em chamas, o Governo Federal aproveita que a atenção dos ambientalistas segue voltada para esses desastres e passa a boiada nos demais biomas. Vamos ver até quando o nosso meio ambiente resiste a todos esses ataques do grande capital patrocinados pela gestão de Jair Bolsonaro.

 

Para encerrar, eu gostaria de citar essa denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República, apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como líder de uma organização criminosa no escândalo das rachadinhas em seu gabinete na Assembleia Legislativa, quando ele era deputado estadual. O ex-assessor da família Fabrício Queiroz também foi denunciado, ambos acusados pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro.

 

Pela quebra de sigilo bancário e fiscal, os promotores do MP indicam que o parlamentar utilizou, pelo menos, R$ 2,7 milhões em dinheiro vivo no esquema das rachadinhas. Essa ação do Ministério Público já era esperada e os procuradores sequer esperaram a decisão do Supremo em relação ao foro competente para se debruçar sobre o caso, se é a 1ª Instância da Justiça do Rio, a cargo do juiz Flávio Itabaiana, ou se é o Órgão Especial do Tribunal de Justiça, visto que a defesa do senador alega que ele era deputado à época dos supostos crimes.

 

Vamos esperar os desdobramentos deste caso e a decisão da Suprema Corte. Fato é que a família Bolsonaro está cada vez mais enrolada com a Justiça do nosso país.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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