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Editorial – 30.09.2019

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A cada dia que passa, o caráter irregular do processo que culminou com o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff vai sendo admitido pelos seus principais articuladores. Depois de Michel Temer falar em golpe em uma entrevista ao programa Roda Viva, o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) admitiu que o único interesse do grupo político derrotado nas urnas em 2014 era retirar a petista do Palácio do Planalto.

 

E sobre essa confissão, ainda que tardia, de alguns dos protagonistas do impeachment de Dilma Rousseff, o colunista do jornal O Globo Bernardo Mello Franco escreveu uma interessante análise no último domingo, que gostaria de fazer a leitura aqui em nosso espaço editorial. O título da coluna é “O peixe podre do impeachment”.

 

“Três anos depois, a história do impeachment de Dilma Rousseff continua a ser reescrita. Na sexta-feira, o tucano Aloysio Nunes afirmou que a Lava-Jato cometeu “ilegitimidades” e vendeu “peixe podre” para forçar a derrubada da ex-presidente. Ele se referia ao grampo do “Bessias”, vazado por Sergio Moro às vésperas da votação decisiva na Câmara.

 

O então juiz divulgou o diálogo na tarde em que Dilma nomeou Lula para assumir a Casa Civil. Com base no grampo, o ministro Gilmar Mendes anulou a posse. Alegou que o ex-presidente estava atrás do foro privilegiado para fugir da cadeia.

 

Graças ao Intercept Brasil, hoje se sabe que Moro e a Lava-Jato omitiram outras conversas gravadas no mesmo período. Elas sugerem que o principal objetivo da nomeação era blindar Dilma, e não Lula. A presidente apelava ao antecessor para recompor sua base no Congresso e salvar o próprio mandato.

 

“Quando você fala na divulgação do diálogo do Lula com a Dilma, evidentemente você tem uma manipulação política do impeachment”, disse o ex-senador Aloysio em entrevista à “Folha de S.Paulo”. “Não é uma coisa por inadvertência, foi de caso pensado”, acrescentou.

 

O tucano foi beneficiário direto do impeachment. Candidato a vice-presidente na chapa de Aécio Neves, ele virou líder do governo de Michel Temer no Senado. Meses depois, foi promovido a ministro das Relações Exteriores.

 

Na sexta, o tucano disse não ter dúvidas de que a nomeação de Lula teria evitado a queda de Dilma. “Foi exatamente por isso que eles procuraram barrar”, afirmou, referindo-se a Moro e à força-tarefa da Lava-Jato. “Eles manipularam o impeachment, venderam peixe podre para o Supremo Tribunal Federal. Isso é muito grave”, concluiu.

 

No livro “Nada Menos que Tudo” (Planeta, 256 págs.), o ex-procurador Rodrigo Janot joga luz sobre outras faces obscuras daquela crise. Ele narra dois episódios em que foi pressionado a parar as investigações contra o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em troca de blindagem ao governo petista.

 

O primeiro recado foi transmitido pelo ex-ministro Henrique Eduardo Alves, em almoço com o procurador Peterson Pereira. “Fala para o Janot parar com essa investigação, senão o Cunha vai tocar o impeachment da Dilma”, disse o emedebista, de acordo com o livro.

 

Em outra passagem, Janot conta que Cunha ameaçou José Eduardo Cardozo, então ministro da Justiça. “Cardozo adiantou que me segurar seria impossível, que o procurador-geral tinha autonomia, não podia ser controlado”, escreve.

 

O ex-procurador pediu o afastamento de Cunha em dezembro de 2015, dias depois da abertura do processo de impeachment na Câmara. Neste caso, o Supremo não teve pressa. Apesar do pedido de urgência, o ministro Teori Zavascki demorou mais de cinco meses para levar o caso ao plenário. Cunha só seria removido da cadeira em maio de 2016. Exatos 18 dias depois de comandar a votação que selou a queda de Dilma”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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