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Editorial – 30.10.2020

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Parece que a necessária construção da unidade no campo progressista para derrotar o bolsonarismo começa a dar sinais de que pode acontecer. O tão esperado encontro entre o ex-presidente Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT) para selar as pazes após dois anos de intensa troca de farpas e desentendimentos aconteceu no início de setembro, na sede do Instituto Lula, em São Paulo. Conforme divulgado pelo jornalista Sergio Roxo, do jornal O Globo, a reunião foi intermediada pelo governador do Ceará Camilo Santana, também do Partido dos Trabalhadores, com tratativas para sua viabilização durando mais de um mês.

 

Após uma tarde inteira reunidos colocando as mágoas sobre a mesa, discutindo o governo de Jair Bolsonaro e levantando diagnósticos para a derrota eleitoral em 2018, os dois caciques da centro-esquerda passaram a evitar ataques mútuos em declarações públicas, o que animou os entusiastas de uma aliança visando o próximo pleito presidencial.

 

Diante da atual irrelevância da esquerda no debate político, essa sinalização acendeu uma pontinha de esperança, e talvez ela esteja relacionada ao movimento que acontece na América Latina, onde países como Bolívia, Chile e Argentina parecem retomar o embate ao ultraliberalismo, como nós temos noticiado aqui no Faixa Livre nas últimas semanas.

 

A grande questão é que nem o PT da época em que Lula era uma liderança metalúrgica insurgente, tampouco o PDT dos idos do trabalhismo de Leonel Brizola existem mais. As legendas entraram na onda do pragmatismo político, buscando todas aquelas alianças políticas espúrias que caracterizam a propalada velha política.

 

Acho que não é necessário lembrar aqui os acordos que o Partido dos Trabalhadores fez para buscar governabilidade durante os 13 anos em que esteve no Palácio do Planalto. Já o Ciro Gomes, que acena para o grande capital com frequência, elogiou recentemente o DEM e entrou na chapa da legenda de ACM Neto para a prefeitura de Salvador.

 

Caso não haja uma ruptura total com o modelo colocado pela plutocracia há anos no nosso país, e não é isso que demonstram tanto Lula, como Ciro Gomes, continuaremos a ser governados pelos interesses do capital hegemônico. Mais que espectador, o povo brasileiro seguirá sendo vítima da destruição das garantias sociais, e o Estado nacional, entregue a grandes multinacionais estrangeiras. Mais que nomes, a esquerda precisa voltar a olhar para os verdadeiros dramas da população pobre do nosso país.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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