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Ao longo dessa edição do programa de hoje, nós voltaremos a colocar no foco do debate especial o dilema da economia brasileira, isso por conta não só de problemas estruturais internos que vivemos e continuamos a aprofundar, mas especialmente em função do quadro mundial. Ontem a Organização Mundial de Saúde elevou para situação de emergência global o surto de coronavírus e a Associação de Comércio Exterior do Brasil estima uma queda superior a 3,5% nas exportações brasileiras neste ano, principalmente por conta da projeção a respeito dos efeitos econômicos que esse surto irá produzir no comércio internacional, mas particularmente no dinamismo da economia chinesa.
O governo da China vem tomando uma série de medidas justamente para minimizar o processo de contágio, de deflagração dessa doença e isso está tendo impactos evidentemente muito fortes na área que é mais afetada na China, que se constitui em uma importante região industrial. Nesse sentido, todos os problemas da economia brasileira tendem a se agravar. As opções que temos feito na economia brasileira já há alguns anos é apostar principalmente no dinamismo das exportações de produtos agrícolas, animais e minerais, são as chamadas commodities que fariam com que o país viesse a conseguir cada vez mais saldos comerciais expressivos, justamente pelo dinamismo dessas exportações.
Ocorre que, ao mesmo tempo, a gente vem acompanhando já há muito tempo um processo de desindustrialização da economia brasileira, isso significa que cada vez mais aquelas empresas que aqui estão instaladas e produzem bens industriais,cada vez apostam mais na importação de peças e componentes que formam toda a sua estrutura de produção. São cadeias internacionais comandados por multinacionais e onde nossa capacidade de intervenção deveria se dar principalmente através de regras que o Estado estabelecesse e que procurassem recuperar, por exemplo, uma perspectiva de programas de industrialização para o país, mas isso não ocorre, ao contrário, cada vez mais nós temos a dependência das exportações e um componente cada vez maior de importações.
Não sem razão, muitos analistas, inclusive alguns de nossos comentaristas, têm chamado atenção ano após ano para a ampliação do nosso déficit em conta corrente. Significa que estamos diminuindo nossa capacidade de um mínimo de autonomia e soberania frente aos mercados globais, cada vez mais dependemos da exportação de produtos brasileiros para poder garantir a importação de boa parte daquilo que a nossa indústria realmente existente depende. É nesse sentido que causa muita preocupação as estimativas da própria Associação de Comércio Exterior do Brasil, que apontam para esse ano um decréscimo das nossas exportações, algo que já vem ocorrendo, ao mesmo tempo em que temos uma situação onde frente a qualquer perspectiva de crescimento econômico, temos de levar em conta o aumento das importações.
E aí que as coisas se complicam porque temos uma situação onde justamente através da balança comercial que, podemos dizer, geramos os dólares necessários para cumprir uma série de compromissos que principalmente a nossa relação de serviços estabelece com o mundo. Nós pagamos parcelas importantes de recursos ao exterior por conta dos fretes internacionais que nossa economia depende, remessa de lucros e dividendos e, principalmente, os royalties que acabamos pagando para empresas internacionais.
Essa nossa conta de serviço, além do pagamento de juros das empresas privadas principalmente, acaba gerando um encargo para o país muito pesado, numa situação onde as exportações brasileiras continuam em queda, é evidente que teremos cada vez mais problemas para o financiamento da nossa conta externa. É lógico que se pondera que o Brasil atrai muitos recursos que entram aqui pela conta de capital, bem como existe toda a segurança que as nossas reservas internacionais nos dariam. O problema é que essas reservas internacionais já foram queimadas esse ano em mais de 10% e, ao mesmo tempo, nós temos a incerteza do quadro global que poderá afetar ainda mais esse dinamismo exportador da economia brasileira, onde hoje, de alguma maneira, nós dependemos.
É nesse sentido que ganha relevância o debate que teremos logo mais, como a economia brasileira poderá enfrentar mais essa fase onde as situações de risco se colocam de maneira mais evidente ainda. Portanto é uma situação que complica o problema econômico brasileiro e que a gente tem de acompanhar com muita atenção. Esse será o objetivo maior dessa nossa discussão de logo mais.
Teremos também entrevistas com dirigentes da Federação Única dos Petroleiros, que ontem confirmou a deflagração de greve da categoria a partir de amanhã, por conta das demissões e das privatizações que estão em curso dentro da empresa. A Federação Nacional dos Petroleiros, a FNP, também vai conversar conosco para expor sua posição frente à atual situação da Petrobrás.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: